Era uma vez (n)o Acre
QUANDO EU DIGO que o melhor seria devolver o Acre à Bolívia com um pedido de desculpas e um cheque de 22 milhões de libras, eu realmente não estou brincando. Se você ler hoje a reveladora reportagem de Fábio Zanini na Folha, vai entender por quê.
Pisei em Rio Branco pela primeira vez em setembro de 1996, aos 20 anos. Bem no meio da campanha eleitoral na qual o atual governador Jorge Viana (PT) perdeu a prefeitura para o grupo do PMDB, formado pela tropa que mais tarde seria envolvida no escândalo de compra de votos.
O governador do Acre à época era o distinto de azul senhor aí acima, Orleir Cameli. De família de grileiros e contrabandistas da região do Juruá, Orleir já era figurinha fácil no Ministério Público antes de assumir o governo: tinha métodos, digamos, nada sutis de persuadir índios ashaninkas e seringueiros a lhe cederem a madeira de suas terras (para um relato mais autorizado, vide Enciclopédia da Floresta, de Manuela Carneiro da Cunha, ou mande um e-mail para o Altino Machado).
No governo, colecionou ações de improbidade administrativa e pedidos de impeachment. Jorge Viana e o grupo ético do PT, que incluía figuras como Marina Silva e por quem me apaixonei de cara, vociferavam contra a corrupção e o coronelismo. Fizeram diferente no município e prometiam fazer diferente no governo do Estado.
Na época em que cheguei ao Acre, e o Altino há de se lembrar disso, não havia poste nem tapume de Rio Branco que não tivesse o cartaz "Procura-se: vivo ou morto" e uma foto de um certo "Baiano". O homem era traficante de drogas e havia se desentendido com o irmão de um coronel chamado Hildebrando Pascoal, que lhe financiara a saída da cadeia mas que viera cobrar a dívida depois. Sem ter como pagar, Baiano meteu bala no irmão do coronel, num posto de gasolina em Senador Guiomard. O coronel, claro, ficou puto e colocou toda a PM do Acre atrás do traficante. No caminho, mutilou todas as pessoas que encontrou pela frente e que tinham alguma ligação com Baiano - inclusive, numa passagem célebre, um ex-comparsa do bandido, que foi esquartejado com uma motosserra e jogado em vários pedaços na frente de uma estação de TV.
A PM do governador Orleir era comandada por Aureliano Pascoal, primo de Hildebrando.
Pois não é que meu herói Jorge Viana, paladino da Justiça e do Desenvolvimento Sustentável, anda agora de beijos e abraços com ninguém menos que Orleir em pessoa? Que o apóia e anda pedindo votos para o PT?
Eu achava que nada mais pudesse me horrorizar nesta vida. Poizé.
Só falta agora descobrir que Marina Silva é amante de Ronivon Santiago e que Dom Moacyr Grecchi foi o verdadeiro assassino de Chico Mendes.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home