São Paulo das selvas
QUEM OLHA PARA AS FOTOGRAFIAS do interior de São Paulo reunidas por meu guru Marcelo Leite no livro "Nos Caminhos da Biodiversidade Paulista" pode achar que errou de Estado. A maior parte delas lembra mais as imagens do Mato Grosso registradas pelos irmãos Villas Bôas na década de 1940: rios caudalosos, amplas cachoeiras, corredeiras, floresta densa, índios pelados. Mas estamos no noroeste paulista em 1905. Rio Preto, Presidente Prudente, Araçatuba, enfim, todas as terras entre os vales do Tietê, do Grande e do Paranapanema.
A Alta Noroeste, como é conhecida a região, era em pleno começo do século 20 "território dos indios feroses". Antas e sucuris de 8 metros nadavam no Tietê, hoje lar de dourados e tucunarés trazidos por pescadores esportivos que levaram a ictiofauna local ao colapso.
Um relato feito por membros da Comissão Geográfica dá uma idéia de como os índios kaingáng (na época, "coroados") eram vitimados por reides de sertanejos:
"Reuniam-se 20 ou 30 sertanejos armados de
carabinas e facões. (...) Dormiam na visinhança das aldeias, em geral compostas
de 6 a 7 ranchos e habitadas por umas 20 a 30 pessoas, esperavam o amanhecer
para dar o ataque, quando ainda entorpecidos pelo somno, a acção do inimigo
pudesse ser menor que a dos assaltantes. Emquanto uns alvejavam os indios (...)
outros entravam nos ranchos e a tiro e a facão timavam os arcos e os tacapes que
pudessem encontrar (...) e era raro o filho das selvas que conseguia escapar do
morticinio."
PS: em menos de 60 anos a região se converteu num imenso canavial.
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