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Apenas uma relíquia do Plioceno...

segunda-feira, julho 25, 2005

Yvy marañeý

MEU AMIGO SPENSY PIMENTEL acaba de me mostrar sua tese de mestrado, orientada por Beatriz Perrone Moysés, na USP. É sobre os suicídios guaranis em Mato Grosso do Sul. Não dou detalhes sobre a publicação (que ainda não foi defendida), mas tem a ver com Durkheim e um monte de especulações interessantes.

Me espantou ver algumas citações a Teko Vaí, trabalho que eu fiz sobre os guaranis no longínquo ano de 1997, quando passei 20 dias clandestinamente na TI de Dourados, fugindo da vigilância do chefe cuzão do posto da Funai e dormindo em rede num barracão que servia de depósito/galinheiro da casa do kaiowá Albino Nunes (a filha adotiva dele, de 15 anos, ficou impressionadíssima quando eu lhe disse que sim, índios geralmente dormem em redes). Além de ter sido o texto mais honesto (e talvez o mais coerente) que eu já escrevi, o trabalho levantava algumas questões que continuam desgraçadamente atuais, pelo que pude averiguar numa passada d'olhos pela tese do Spensy, sobre a questão guarani — e sobre a questão indígena no Brasil de modo geral.

Pra ficar só no mundinho Dourados, eu descrevi em 97 a garimpagem dos kaiowás no lixão municipal (vizinho da reserva) atrás de roupa, material de construção e (às vezes) comida. O repórter Hudson Corrêa, da Folha de S.Paulo, visitou o lixão neste ano. Os índios ainda estão lá. Só isso justificaria a extinção da Funai local.

Falo também do "fenômeno" dos índios sem-terra, guaranis que aguardam acampados em beiras de estrada decisão judicial para retomar seus tekoha (territórios tradicionais), grilados, desmatados e ocupados por fazendeiros há mais de um século. O assassinato do líder guarani Marcos Verón (conheci uma de suas noras no lixão de Dourados), em janeiro de 2003, atesta que o movimento de retomada guarani ainda incomoda a oligarquia rural sul-matogrossense.

Por fim, todas as causas próximas e últimas do suicídio permanecem: confinamento, dominação dos terenas sobre os guaranis de Dourados, um sem-número de igrejas pentecostais atuando na região, o esfacelamento do modo de vida indígena e a desassistência refletida, em tempos recentes, nas mortes de bebês guaranis ("desnutrição" é a desculpa oficial).

Enquanto o governo se jacta de ter demarcado em terra contínua a (long overdue) TI Raposa/Serra do Sol, zona de ocupação recente na internacionalmente visada Amazônia, as demarcações guaranis, cercadas por todos os lados pelo "setor produtivo" (de origem paulista e agroexportadora), permanecem paradas, condenando à forca (literalmente) uma nação inteira. Mais um genocídio nacional, perto do qual o mensalão até que não é tão grave.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Prezado homo sensibiles,

gostaria de dar uma lida no trabalho que você escreveu sobre os caiowas em 1997, tem como?
Explico: além de curiosidade (não destas suplérfluas, mas vontade de entender um pouco mais sobre mais esta "morte anunciada")pode me servir também de referência bibliográfica, já que estou, como seu amigo Spensy, interessada em ajudar a intervir nesta questão, de alguma maneira.
Gostei muito de seu artigo no blog. Também acredito que existem questões muito graves neste país que não são sequer tocadas (as grandes feridas...), perto das quais os mensalões e congêneres parecem realmente ruído (ou pano de fundo?)
Abraço.
Lany Valente (lanyvalente@uol.com.br)

2:50 PM  
Blogger Unknown said...

Boa Noite,

Gostaria de perguntar se a escrita de Yvy MArâneý esta correta. Pois já vi escrita das seguintes formas:

Yvy Maraney

Yvy Marane'y

Muito Obrigada.. È muito importante!

6:00 PM  

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