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sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Desconstruindo Azevedo, DE NOVO

SUPREMA IRONIA, o jornal que mais lutou pela redemocratização do país dedica página 3 após página 3 ao ex-interventor militar da UnB, José Carlos de Azevedo. Este blógue mais uma vez não resiste à tentação de detonar parágrafo por parágrafo a argumentação do ex-"reitor" em seu mais recente artigo na Folha.


"EM JANEIRO de 2008 nevou em Bagdá e isso não ocorreu em todo o século 20; no mesmo ano e no atual, nevou na Síria, na Turquia, na Grécia e em grande parte da Ásia. Na Europa e nos EUA o inverno é inclemente e nevou nos desertos de Mojave e de Las Vegas.

Qualquer pessoa que já tenha visto um filme do Theo Angelopoulos sabe que neve na Turquia e na Grécia é mais do que usual. Sobre Las Vegas, bem, os espanhóis que batizaram a região de NEVADA não devem tê-lo feito à toa.

Nada disso foi previsto pelos xamãs e videntes do IPCC, que, há 20 anos, fazem "projeções climáticas" para 20 ou mais anos depois.

Azevedo confunde tempo e clima. Como ninguém que tenha feito curso superior e ainda mais que diz entender do assunto pode confundir esses dois conceitos tão elementares por ignorância, suponho que tenha sido por má fé, para induzir o leitor leigo a erro.

Mas o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) previu as enchentes de Santa Catarina com acerto e uma semana de antecedência. A frase é de Mark Twain: "Clima é o que esperamos; tempo, é o que recebemos".

Assim como os serviços meteorológicos dos EUA, da Turquia e da Grécia previram as "anomalias" deste ano com antecedência. Porque é para isso que serviços meteorológicos servem: para prever o TEMPO.

Há hoje apenas uma prova do "aquecimento antropogênico": os computadores do IPCC e adeptos.

www.ipcc.ch

É certo que a quantidade de CO2 no ar cresce muito tempo depois de a temperatura aumentar. Satélites e sondas meteorológicos também comprovam que, nos últimos 13 anos, a temperatura ficou estável nos dez primeiros e caiu nos três últimos.

Essa suposta discrepância já foi solucionada há muito tempo com o auxílio de satélites e outros instrumentos. Azevedo não consulta a literatura científica produzida depois dos anos 1960. Nos últimos 13 anos tivemos 11 dos anos mais quentes da história. A queda nos últimos três ainda mantém a temperatura acima da média dos últimos 50 anos. Azevedo aqui comete, mais uma vez de propósito, o erro simples de viés de seleção, ou seja, apresenta só uma parte dos dados e tira conclusões em cima delas.

O clima na Terra muda há bilhões de anos e a temperatura sobe há uns 20 mil, desde o fim da Era Glacial, quando uma enorme parte do hemisfério Norte esteve sob uma camada de gelo com mais de um quilômetro de espessura e o nível dos oceanos era uns 150 metros inferior ao atual.

Fato.

Se não existe a teoria do clima, que modelos climáticos os videntes do IPCC processam nos seus supercomputadores?

Como assim "não existe a teoria do clima"?? Azevedo aqui usa um truque retórico favorito de seu colega da turma dos simpatizantes da repressão Paulo Salim Maluf: lançar uma premissa falsa para depois desmontá-la com uma argumentação impressionante.

Um estudo de Koutsoyianis e outros autores, de 2008, confirma que "o desempenho dos modelos é fraco; em escala de 30 anos (...) as projeções não são confiáveis e o argumento comum de que o seu desempenho é melhor em larga escala não tem fundamento".

Mais uma vez, ele seleciona evidências. Fala de UM estudo e esquece as outras centenas que apontam a conclusão oposta.

Em 2007, K.Trenberth, meteorologista do IPCC, disse que "não há previsões climáticas feitas pelo IPCC. E nunca houve". Mas os xamãs dizem que há "consenso científico" sobre a influência do CO2 no clima, o que fez R. Lindsay, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA), dizer: "Chegaram ao consenso antes de a pesquisa ter começado".

Vale a pena perder um momento aqui para dizer quem é Kevin Trenberth: um dos maiores climatologistas do mundo, da Universidade do Colorado, Trenberth é o autor de um estudo interessantíssimo argumentando que a temporada de furacões de 2005 é atribuível à temperatura média mais alta do Atlântico, produto por sua vez do aquecimento global. Não exatamente alguém que se poderia chamar de cético do clima. Sem entrar no mérito de que a frase citada por Azevedo pode ter sido tirada de contexto (e foi), ela está rigorosamente certa: o IPCC não faz previsões, e sim aponta cenários mostrando o que acontecerá com o clima para cada trajetória de emissões. Uma diferença sutil, mas importante.

O que significam então os fatos mencionados no primeiro parágrafo? Só os pobres em espírito sabem.

Elementar, meu caro Azevedo: os fatos citados no primeiro parágrafo significam que o clima da Terra varia muito. Isso nada tem a ver com riqueza ou pobreza de espírito.

É ainda impossível provar se a Terra aquece ou esfria ou se começou a nova Era Glacial anunciada nos anos 1970 por atuais videntes do IPCC.

Já foi mais do que noticiado por jornais do mundo inteiro, inclusive a Folha, o estudo que mostrou, com base em extenso levantamento bibliográfico, que o número de artigos científicos prevendo uma era glacial nos anos 70 era muito menor do que o número de artigos científicos prevendo aquecimento. Essa proporção só era diferente nas páginas dos jornais.

O clima depende de fatores físicos, químicos, geológicos, biológicos, oceânicos, glaciais, astronômicos e astrofísicos, mas eles garantem que o CO2 é o responsável e citam sempre dois estudos do século 19, de Fourier e Arrhenius, ambos sem validade científica atual e com muitos erros, mas por eles reverenciados com enternecido fervor religioso. O artigo de Fourier é uma exposição literária, sem uma só equação e com muitos erros conceituais, apesar de não ter sido assim àquela época. Arrhenius errou ao calcular a temperatura da Terra se não existisse o CO2 no ar e ao atribuir as eras glaciais à diminuição desse gás; prático, disse que a sua teoria só poderia ser contestada se provassem que a retirada do CO2 não esfriaria a Terra e assim deu o mote para o "sumo sacerdote do aquecimento", o norte-americano Al Gore: "A ciência está feita".

Os dois cometeram vários erros e seus papers foram rejeitados durante décadas. Coitados. Eles não dispunham das ferramentas necessárias para entender o clima, mas foram os primeiros a colocar o guizo carbônico no pescoço do gato climático. Arrhenius estava certo pelos motivos errados: sua previsão para um mundo com o dobro de dióxido de carbono era de um aquecimento de 5 graus, mais que os 3 graus previstos hoje, mas na mesma magnitude.

Quem quiser que prove o contrário. O IPCC desconhece o que fez o físico meteorologista C.T.R. Wilson, inventor da "cloud chamber" -câmara de nuvens-, com a qual pretendia reproduzi-las em laboratório; ganhou o Nobel de Física de 1927 porque a câmara possibilitou comprovar muitas previsões das teorias da relatividade e quanta. Wilson é o precursor dos importantes estudos sobre o clima no Instituto de Pesquisas Espaciais da Dinamarca e no Cern.

Parabéns para ele. Mas o que isso tem a ver com este texto?

Às mudanças drásticas no clima ocorridas nos últimos 10 mil anos são atribuídos os colapsos das civilizações acadiana (Mesopotâmia, 2200 a.C); maia (Mesoamérica, há 1.200 anos); moche (Peru, há 1.500 anos); e tiwanaku (Bolívia/Peru, há mil anos).
Tudo isso ocorreu sem um grama do CO2 "antropogênico" no ar. Nem a devastação de cerca de 400 mil quilômetros quadrados nas pradarias dos EUA e do Canadá ("dust bowl", 1930 a 1936) é fruto desse gás, pois foi causada pela seca e o mau uso da terra.

Prova de como é importante não brincar com o clima, porque qualquer mudança brusca nele pode ser fatal.

Aos cultores dessa ciência climática vudu, sem teoria nem comprovação experimental, restou fazer ameaças, frases feitas e reuniões estridentes no Rio, em Bali e em Poznam para salvarem a Terra. E ungir mais um sumo pontífice, o barão Stern of Brentwood, que, na Oxonia Lectures de 2006, fez a cândida confissão: "Em agosto ou julho do ano passado, eu tinha uma ideia sobre o efeito estufa, mas não estava seguro". Meses depois, sacramentado como sábio pelo governo inglês para elaborar o relatório Stern, um cartapácio de 700 páginas, quer fortalecer o ecoterrorismo.

Stern fez o que Azevedo deveria ter feito: procurar se informar sobre o assunto antes de falar merda.

O barão veio a esta Terra dos papagaios e causou enorme sensação, apesar da sua sabença oca.

Doh.

JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 76, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).

4 Comments:

Blogger João Simões said...

O pessoal que critica o Protocolo de Kyoto deve estar sendo muito bem "patrocinado"

6:29 AM  
Blogger João Simões said...

Seu blog é muito interessante...eu também tenho um blog que fala de Evolução e afins...

6:30 AM  
Anonymous Miguel said...

Excelente "desconstrução", Paranthropus! Será que eu vou ter que assinar a FSP só para pedir encarecidamente ao Frias que lhe dê um espaço na página 3 também? A propósito, acho muito estranho que o físico Rogério César Cerqueira Leite (que faz parte do conselho editorial da FSP), que me parece conhecer muito mais do assunto que o DR. AZEDO, não tenha até agora se manifestado. Se não me falha a memória uma edição da SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL tem um longo e ótimo artigo do Cerqueira Leite sobre aquecimento global.

3:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

Puta que o pariu! Quanta merda. Não há o que dizer...você me tira as palavras. "(...)detonar parágrafo por parágrafo..." Ainda bem que você não está sozinho nessa, está com o IPCC, Al Gore, Gilese Bunchten, todos os canais de TV ...Pelo menos uma coisa aprendi com vocês: os fatos não são suficientes para calar uma mentira, contra uma ideologia nem uma bomba atômica...

11:56 AM  

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