Ideias antigas

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quarta-feira, abril 13, 2005

O ritual macabro vem aí

ESTÁ MARCADO para o fim deste mês, em Brasília, o Ritual Macabro. Foi esse o nome que a ministra Chiquinha Silva deu à divulgação anual dos números de desmatamento da Amazônia, compilados pelo Inpe. Todo mundo já sabe o resultado: algo em torno de 25 mil quilômetros quadrados, o que confirma que a devastação atingiu mesmo um novo patamar.

O governo tem agora nas mãos um sistema revolucionário de detecção do desflorestamento em tempo real, o Deter, desenvolvido pelo mesmo Inpe para mostrar também em tempo real o tamanho da nossa incompetência. O Plano de Ação contra o Desmatamento, do Ministério do Meio Ambiente, começou atrasado porque os postos de controle em Itaituba e outras partes do Pará não tinham como flagrar as ocorrências -- faltava pneu para os carros.

A seringueira e ambientalista Marina e o ex-ongueiro João Paulo Capobianco vão ter que engolir mais esse dobrado. Além de dobrados outros, como o estudo do Imazon que mostra que 47% da floresta já está ocupada e que a indústria madeireira está abrindo estradas invisíveis ao satélite em meia mata. Nem nos tempos mais duros de FFHH se desmatou tanto na Amazônia.

A culpa, na minha modesta opinião, é do presidente Lula, que faz Marina e Capô dormirem ao lado do inimigo, o diabólico RR (Roberto Rodrigues, ou Roundup Ready, como queiram). Ao eleger a soja e o boi como motores do desenvolvimento nacional, e convencer Lula disso, RR declara que essa história de floresta em pé é coisa de bambi. O Pará é hoje o maior rebanho do país -- passou Mato Grosso do Sul --, e São Félix do Xingu desponta como nova Dallas brasileira. A soja da Maggi e da Cargill avança relentlessly sobre cerrado e pastagens abandonadas no norte de Mato Grosso, empurrando o gado adiante. E tome motosserra. Hoje não se tira mais madeira para capitalizar o pasto; o capital de giro vem da venda das pastagens aos sojeiros, que as compram pelo olho da cara. O que os ganadeiros fazem é queimar tudo, simplesmente. Madeira dá muito trabalho pra tirar.

A culpa é de São Pedro. O ex-papa que controla o tempo fez quebrar a safra no Rio Grande do Sul, revertendo o quadro de queda dos preços da soja no mercado internacional, que seria um alívio para a floresta, e favorecendo os plantadores matogrossenses. Lá em Sorriso o pessoal está tendo reais motivos para dar mesmo boas risadas. O nome do município se justifica.

A culpa é da imprensa burguesa. Luminares como Arnaldo Jabor, que chamou o MMA de "mausoléu de Chico Mendes", e a revista Exame, que quer calcular quanto cada dia de trabalho de Marina custa ao desenvolvimento do país. Deveriam fazer o mesmo cálculo para o gênio às avessas que dirige a redação.

A culpa é da China, que cresce 10% ao ano e demanda cada vez mais soja e carne para alimentar sua população, que segue a inefável tendência evolutiva humana de aumentar radicalmente o intake de calorias toda vez que tem recursos sobrando.

A culpa, por fim, é da própria Marina, que ainda insiste em dialogar com essa corja toda, levando porrada atrás de porrada. Marina perdeu tanto que eu, se fosse ela, pedia demissão do cargo para deixar bem claro de quem é a responsabilidade pelo fiasco ambiental do governo Lula. Mantê-la como figura decorativa é sadismo.