Richard Wright
A PRIMEIRA VEZ que eu ouvi Rick Wright tocar foi em 1989. Eu tinha 14 anos, começava a me interessar por música, e os cacos do Pink Floyd haviam se reunido pouco tempo antes para gravar Delicate Sound of Thunder. Aí houve o show de Veneza.
Veneza até hoje se lembra muito vividamente desse show. Eu também, mas por motivos opostos: para mim, aquilo era simplesmente a coisa mais espetacular que alguém podia fazer com guitarra, baixo, bateria e teclados. Muitos teclados.
Em 1991, Shine on Your Crazy Diamond entrou na minha vida. Foi composta em 1975, ano em que nasci. A introdução de teclado de Rick Wright é um dos grandes momentos da música do século 20. Provavelmente a melhor coisa que já se compôs no Ocidente desde o Album Branco. Ficava noites a fio ouvindo-a, em vinil.
Por conta dessa música, fui parar em Machu Picchu no verão de 1992, aos 16 anos (para ver o célebre show que nunca houve), numa viagem que de certa forma definiu a vida de dois adolescentes.
Depois dela, meu amigo Guilherme Carvalho optou de vez pela música. Hoje leciona composição na Universidade de Paris. E ainda escuta Pink Floyd.
Rick Wright morreu nesta semana, de câncer. Ganhou exatos três parágrafos de obituário no maior jornal do país e nem isso no maior jornal de São Paulo. É genericamente associado com um fóssil, um dinossauro, um dead-end evolutivo, uma bizarrice dos anos 60 sem herdeiros nem continuidade. Pergunte a Thom Yorke o que ele acha disso.
Mas pior do que o descaso esperado da Ilustrada - aquele caderno que gosta de incensar pop lésbico e João Gilberto e cujos críticos de música entendem tanto do que falam quanto eu entendo de equações diferenciais - foi ler o que David Gilmour escreveu em seu site sobre o ex-companheiro de banda. Talvez fosse para ser uma homenagem, mas acabou sendo uma mistura de vilipêndio a cadáver e autoelogio.
Rick Wright morreu nesta semana, de câncer. Ganhou exatos três parágrafos de obituário no maior jornal do país e nem isso no maior jornal de São Paulo. É genericamente associado com um fóssil, um dinossauro, um dead-end evolutivo, uma bizarrice dos anos 60 sem herdeiros nem continuidade. Pergunte a Thom Yorke o que ele acha disso.
Mas pior do que o descaso esperado da Ilustrada - aquele caderno que gosta de incensar pop lésbico e João Gilberto e cujos críticos de música entendem tanto do que falam quanto eu entendo de equações diferenciais - foi ler o que David Gilmour escreveu em seu site sobre o ex-companheiro de banda. Talvez fosse para ser uma homenagem, mas acabou sendo uma mistura de vilipêndio a cadáver e autoelogio.
Coisas do tipo:
"Rick's enormous input was frequently forgotten"
Porra, o cara era tecladista do Pink Floyd! Só isso! A definição de rock psicodélico passa pelos teclados de Wright. Como assim freqüentemente esquecida? Por quem?
Porra, o cara era tecladista do Pink Floyd! Só isso! A definição de rock psicodélico passa pelos teclados de Wright. Como assim freqüentemente esquecida? Por quem?
"The blend of his and my voices"
Loas a si mesmo.
Loas a si mesmo.
"Without his quiet touch the Album 'Wish You Were Here' would not quite have worked."
Parece que ele está falando apenas de um músico competente que contratou para gravar um disco.
Parece que ele está falando apenas de um músico competente que contratou para gravar um disco.
"In our middle years, for many reasons he lost his way for a while,(...)"
Isso é coisa que se diga de um companheiro morto?"Enfim, descanse em paz, Wright. Se conseguir.
Isso é coisa que se diga de um companheiro morto?"Enfim, descanse em paz, Wright. Se conseguir.
1 Comments:
Silvio,
Me pegou. Mas isso não é dica que se dê: metade dos meus amigos é fã de Pink Floyd. Por acaso esse nosso amigo em comum também curte outros dinossauros?
Abraços envergonhados.
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