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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quinta-feira, novembro 20, 2008

O ressuscitador de dinossauros


ULTIMAMENTE EU ANDAVA MEIO PUTO com Michael Crichton. Em 2004, ele lançou um ataque virulento, desonesto e sobretudo chato à ciência da mudança climática com seu livro Estado de Medo, já devidamente detonado neste blógue. Nem o estilo frenético do livro, que mais parece um roteiro de cinema (estranhamente, não apareceu nenhum diretor em Hollywood que tenha tido culhão de rodá-lo até hoje), conseguiu tornar minha leitura agradável. Meu muy amigo Marcelo Leite me mandou dia desses um link para uma desancagem profissional de Estado de Medo feita pelo Pew Center.
Para mim o livro foi sobretudo uma trairagem, já que Crichton foi o mesmo cabra que ressuscitou os dinossauros no maravilhoso Jurassic Park, que resultou no meu filme favorito (meu segundo filme favorito é The Day After Tomorrow). Até hoje, pelo menos uma vês por mês, eu e meu filho de cinco anos nos sentamos para ver, embasbacados, a carnificina patrocinada pelos velocirráptores concebidos por Crichton e plasmados por obra e graça da Silicon Graphics.
Crichton bateu as botas no mês passado, no dia em que Barack Obama foi eleito. Um final melancólico para a era Bush. Fiquei até satisfeito na hora, mas as notícias que se seguiram à da sua morte me deixaram um tanto triste. Crichton, afinal, não viveria para ver sua idéia mais ilustre se realizar: a ressurreição de animais extintos pela biotecnologia.
Primeiro foi o clonador japonês Teruhiko Wakayama, no dia 4, anunciando na revista Nature a primeira clonagem de um roedor congelado - um rato, morto já 16 anos e literalmente largado num freezer, de onde se extraíram núcleos celulares intactos que geraram células-tronco com as quais se produziram embriões e, finalmente, ratinhos.
Mas o grande "wow" viria ontem, com o anúncio, na mesma Nature, de que um grupo liderardo por Stephan Shustr, nos EUA, conseguira seqüenciar o genoma do mamute. A partir dele, será possível, provavelmente em nosso tempo de vida, usar a seqüência de DNA de um elefante como um template para reconstruir geneticamente um embrião de mamute e implantá-lo numa elefanta de aluguel. Vamos ver mamutes lanudos caminhando novamente por aí. O New York Times põe um preço de apenas US$ 10 milhões na clonagem. Há indivíduos (ou pelo menos havia, antes de Wall Street derreter) que pagam o dobro disso para dar uma voltinha de Soyuz.
Schuster disse em entrevista à Folha que é "impossível" realizar essa clonagem 100%, que o que teríamos na verdade seria um elefante "amamutado", porque não há núcleos intactos de mamute por aí. Parece que se trata de uma questão de tamanho. Bem, desconfie quando um cientista diz que algo é "impossível".
O draft do DNA do mamute confirma uma velha tendência em ficção científica, a de antecipar em anos ou décadas avanços reais da ciência. Exemplo atrás de exemplo dessas antevisões foram reunidos num livro sensacional recém-lançado no Brasil: Os Homens do Fim do Mundo, do inglês P. D. Smith. Cruzando a história real do desenvolvimento de armas de destruição em massa, do gás de Fritz Haber à bomba de cobalto do Dr. Fantástico, com a literatura de ficção científica do fim do século 19 em diante, Smith compõe um quadro genial (e assustador) de como a vida imita a arte em seus aspectos mais sombrios.
Michael Crichton se diferenciou de seus colegas e antecessores de gênero literário ao explorar o mito de Prometeu não para destruir a humanidade, mas para maravilhá-la. Pense nele, portanto, quando seus netos lhe pedirem para ir ao zoológico ver sua maior atração, a nova espécie criada pela biotecnologia - o Mammuthus crichtoni.

1 Comments:

Blogger Sandra Goraieb said...

Talvez fosse hora que a biotech se ocupasse de uma espécie quase extinta: o H. sapiens. A espécie sapiens está desaparecendo do planeta, infelizmente, dando lugar a mutação imbecilis, subespécie inutilis. Esta categoria ama clonar mamutes e outras espécimes muito úteis em tempos de mudança climática.
Aí me vem espontânea a pergunta: será que foi o calor que derreteu os neurônios da classe científica?
Abraços antigos... e by the way, você que é do Plioceno pode ser a próxima vítima, hehehe...

7:49 AM  

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