Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quinta-feira, outubro 27, 2005

Estado de Merda

FAÇA O QUE EU DIGO, mas não faça o que eu fiz: não perca seu tempo com Estado de Medo, tecnothriller do meu ex-ídolo Michael Jurassic Park Crichton que acaba de ganhar uma tradução no Brasil (Rocco). O livro é um arrazoado de desinformação sobre mudança climática, em alguns pontos tão chato em sua pregação antiambientalista que me levou a cometer a deselegância de pular várias páginas. (E olhe que eu trato romancistas com respeito: o último livro que me fez pular páginas foi Viagens na Minha Terra.) E o advogado dork não come a loira.

Como já disse num post anterior, é possível, em tese, tentar levá-lo na esportiva. Abra, recite o mantra "é só uma ficção de privada" três vezes e comece. Começa bem, na verdade, seguindo a receita infalível da ficção de privada americana: sangue, sexo e suspense. Mas, poucas páginas depois, Chrichton comeca a SE levar a sério e a desfiar seu extenso rosário cético quanto à ameaça do aquecimento global. Você pensa, "não há de ser nada". Quer continuar a ler, está envolvido pela trama. Mas eis que surgem as notas de rodapé. As malditas notas de rodapé. "Como é que pode ser verdade uma porra dessas?", você se pergunta. E começa a enxergar o catatau de mais de 600 páginas como uma reserva vital -- para quando acabar aquele rolo de papel Neve.

Fala sério. Referências! "Nature, volume tal, ano tal". "Science, volume tal, ano tal". Papers de climatologia e afins. Intromissões irritantes do mundo real numa obra de ficção. Que para mim soam mais ou menos como a campainha que toca no meio de um amasso. Eis que os heróis da trama estão lá, passando perigos mil na Antártida, enfrentando os ecoterroristas que, para garantir financiamento para suas ONGs, criam icebergs gigantes e tempestades terríveis. No meio da ação, pausa para uma nota de rodapé que explica que o gelo na Antártida está aumentando, não diminuindo etc. Depois, os nada estéticos gráficos de temperatura (meus colegas jornalistas dizem que se colocarem um gráfico desses no jornal eles são demitidos no dia seguinte; não sei como Crichton conseguiu se safar). E as pregações intermináveis sobre como nada é comprovado, como nada disso é ciência etc.

Não quero aqui imitar Chrichton e discutir ponto a ponto suas misconcepções sobre ciência e ambiente. O climatologista Gavin Schmidt já fez isso por mim, num post maravilhosamente esclarecedor de dezembro do ano passado no blógue Real Climate. Só apontar que eu sei quem são os seus ideólogos, as pessoas que efetivamente falam com a boca do autor em Estado de Medo. É uma galera medonha.

O primeiro é Bjorn Lomborg, o estatístico dinamarquês que publicou o célebre O Ambientalista Cético, aquele livro com 1.900 notas de rodapé (eu contei) que essencialmente diz que mudança climática é uma bobagem, o planeta vai bem obrigado e em vez de gastar dinheiro com o combate ao non-issue do efeito estufa, os países industriais podiam aplicar essa mesma grana no Terceiro Mundo ou algo assim. Só faltou converter a cifra em casas populares. Crichton herdou de Lomborg a paixão por notas re rodapé, uma meia-dúzia de referências e a desonestidade intelectual (para quem não se lembra, o livro de Lomborg foi condenado na Dinamarca por desonestidade intelectual). E cometeu, com o sinal trocado, aquilo que Lomborg classifica de "ladainha" do fim do mundo dos ambientalistas.

O segundo é Dick Lindzen, o meteorologista gordão barbado de suspensórios do MIT que Crichton transformou no professor Kenner, o grande herói de sua trama (Sure enough, Kenner aparece como um tipo atlético, aplinista e meio milico. Em favor de Lindzen, diga-se que ele é um intelectual antimilitarista.) Dick é o cético número 1 do efeito estufa. Acusa o IPCC de ser um órgão político e ter forjado o sumário executivo de seu segundo relatório (o que Crichton faz, sem no entanto dizer nada sobre o terceiro, virtualmente consensual entre os mil cientistas do painel). Compara o ambientalismo à eugenia (o que Crichton também faz, sem ao menos dar o crédito da idéia a Lindzen). Diz que a maioria das geleiras do mundo está aumentando (o que Crichton faz, negligenciando que as geleiras continentais e o gelo marinho do Ártico estão derretendo). E bate na tecla de que os cientistas não entendem o comportamento do vapor d'água, talvez o principal gás de efeito estufa (aqui Crichton vai além de seu mestre e insiste no chamado "efeito íris", tese de Lindzen segundo a qual a atmosfera compensa o aquecimento formando nuvens que por sua vez aumentarão o albedo e diminuirão a temperatura; Lindzen desistiu dessa idéia porque seus experimentos nunca deram o resultado que ele esperava). Há frases inteiras no livro que eu ouvi da boca do próprio Dick, como a história da eugenia e a acusação: "antes eram todos só meteorologistas, e a atenção em torno do aquecimento global de repente transformou todo mundo em cientista climático".

Bleargh.

Então nada, nadinha vale a pena no livro? Bem, para quem gosta, há desfiles de mulheres deslumbrantes, incríveis vôos de jatinho executivo que dão a volta ao mundo em uma semana, canibais, terroristas. Mas aí você pensa: não é o caso simplesmente de ir até a locadora mais próxima e alugar uma bobagem hollywoodiana qualquer em vez de amargar 600 páginas de Crichton? Escolha. Só não diga que eu não avisei.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eu não aprendo, mesmo

NÃO SEI POR QUE razão, comecei a ler "Estado de Medo", a diatribe anti-efeito estufa de Michael Jurassic Park Crichton. Eu sou muito teimoso. Insisto em ver algum valor na obra como ficção, literatura de aeroporto, peça de entretenimento. Mas parece que Crichton insiste em enxergá-la como um libelo científico.

Não sei se conseguirei conciliar essas visões de mundo tão conflitantes e chegar ao final do livro. Acho que sim, porque tem um advogado meio nerd querendo comer uma loura gostosa entre plataformas de gelo que explodem e tsunamis artificiais. E sexo e suspense são fórmulas infalíveis dos americanos para prender o leitor. Enfim, mantê-los-ei informados.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Parem o mundo

EU JURO QUE É VERDADE:
Tem um cara que está relacionando alterações meteorológicas nos EUA com o aquecimento global. Publicando na Proceedings. O cara chama NOAH Diffenbaugh.

E está na mídia: caminhoneiro condenado por ter filmado seu amigo sublocando o roxinho pro eqüino numa fazenda de zoófilos. O amigo morreu, óbvio, e o cara levou a cana sozinho. Nome do zoófilo? Paul TAIL.

terça-feira, outubro 18, 2005

Antes tarde do que nunca

LEIO A NOTÍCIA ABAIXO na France Presse.

LA PAZ, Oct 18 (AFP) - Japón devolvió este martes a Bolivia ocho piezas fósiles del primate ’branisella boliviana’, que habitó la región andina del país hace 26,5 millones de años y es considerado el más antiguo del mundo.El diminuto mono de 14 centímetros y un kilogramo de peso que cabe en la palma de la mano habitó una zona altiplánica hacia el oligoceno tardío y el mioceno temprano, es decir unos 26,5 millones de años.La devolución de las piezas, tras una dîcada en manos de un científico de la Universidad de Kioto, se efectuó este martes en una ceremonia realizada en la cancillería boliviana.El fósil representa “hasta el momento el registro más antiguo de un primate existente en Sudamîrica‘, precisó el paleontólogo Bernardino Mamani, a un diario local.El especímen fue encontrado en 1967 en el yacimiento Salla, provincia Aroma del departamento de La Paz, a unos 90 km al sureste de la sede de gobierno, por el paleontólogo yugoeslavo Leonardo Branisea.El fósil permaneció en un museo público de La Paz hasta que hace una dîcada fue retirado en prîstamo por el investigador nipón Masonaru Tacai.

O Japão podia agora seguir o mesmo exemplo e devolver ao Brasil o pterossauro Anhanguera piscator, vendido ao japonês Yukimitsu Tomida pelo sr. Alex Kellner.

Camarada Lula

DO PRESIDENTE BRASILEIRO, ao ver o corpo de Lênin na Praça Vermelha:
"Impressionante como está bem conservado."

quinta-feira, outubro 13, 2005

Conspiração do dia

OUVI DIZER que Marina Silva e João Paulo Capobianco foram vistos passeando pelas fazendas de Mato Grosso do Sul com tubos de ensaio na mão cheios de um líquido estranho. Não sei se é verdade, mas a febre aftosa em Mato Grosso do Sul vem a calhar para manter baixas as taxas de desmatamento na Amazônia.

terça-feira, outubro 11, 2005

Da série aptônimos

O nome do pesquisador da Carnegie Institution que montou um experimento de campo para testar a reação de parcelas de solo plantadas com gramíneas ao aquecimento global: Christopher FIELD.

Básico.

sexta-feira, outubro 07, 2005

O lento conta-gotas do Prof. Parnell


(consegui inserir foto neste blógue, finalmente!!)

O QUE VOCÊ VÊ ao lado é uma fotografia do hoje mundialmente famoso Pitch Drop Experiment, o experimento da gota de piche, realizado pelo falecido físico australiano Thomas Parnell, da Universidade de Queensland, em 1927. Parnell colocou uma bola de alcatrão congelado num funil para escorrer sobre um béquer, com o objetivo de demonstrar a viscosidade do piche. O material escorreu à extraordinária velocidade de uma gota a cada sete a nove anos. Hoje, a nona gota está em formação. Ontem à noite, Parnell foi contemplado em memória com o Ig Nobel de Física. Trata-se ao mesmo tempo do experimento científico contínuo mais longo da história (tirando aquele outro, involuntário, que consiste em mudar desde 1850 a composição química da atmosfera terrestre com dióxido de carbono pra ver o que vai dar) e do reconhecimento mais tardio que algum pesquisador já teve (alguns prêmios Nobel já levaram 40 anos entre seu eureka e sua contemplação).

A legenda que ele próprio escreveu detalha quando as gotas caíram: 1938, 1947, 1954, 1962 e 1970.

O diabo é que o experimento de Parnell está em risco hoje: a Universidade de Queensland instalou um ar-condicionado no auditório para onde o bibelô foi movido, o que aumentou a viscosidade do piche e retardou a queda das gotas. Além disso, o béquer já está cheio de alcatrão, o que faz com que a próxima gota já esteja em contato com o piche na superfície do vaso. Parnell certamente não imaginou que seu Ig Nobel-winning experiment seria ameaçado por outro desenvolvimento humano vencedor do mesmo prêmio: a lei de Murphy.

Aula de macheza

MEU AMIGO Steve Mirsky, editor da Scientific American, cansado de receber hate-mail de criacionistas, IDevotos e outras aberrações epistemológicas, resolveu dar uma resposta curta e grossa a um desses quadrúpedes. Reproduzo abaixo a carta do leitor e o comentário do editor:

Dear Sir,
In October's Scientific American, Steve Mirsky described Intelligent Design theory in his 'AntiGravity' column as: '"the full-blown intellectual surrender strategy" that proposes that a scientific explanation of life's complexity requires the intercession of a supernatural being.' This is incorrect. ID does not propose that 'the intercession of a supernatural being' is a scientific explanation, or even an explanation, required by life's complexity. All that ID hypothesizes (to account for specified and/or irreducible complexity) is the intercession of intelligence, full stop. Many ID theorists (but not all) philosophically identify this scientifically inferred intelligence as supernatural, but such identification is neither scientific nor part of Intelligent Design theory. Suppose a SETI researcher concludes, on the basis of a message received from space detailing how to build a machine (as in the movie Contact), that intelligent aliens exist. Would they be accused of 'intellectual surrender' because they should continue searching for an unintelligent explanation? No. In which case, why accuse ID of 'intellectual surrender' for making design inferences of exactly the same sort? If there are robust scientific design detection criteria, and if the conditions of those criteria are fulfilled by anything in nature, then ID represents an intellectual advance. Yours,


Dear Mr. Williams, Thank you for writing and voicing your
opinion. With all due respect, what an utter crock. ID is
the bastard offspring of creationism, concocted for political
reasons. Read up on its history--it has no intellectual foundation
and serves no intellectual purpose. And the best candidates that ID
proponents themselves put forth for a non-supernatural intelligent designer are
space aliens and time traveling molecular
biologists. Please. Occam's razor cuts that argument into
slices so thin you can see right through them.

terça-feira, outubro 04, 2005

Equações não-lineares

MALDITO SEJA o filho da puta que inventou essa merda. Queime dez vezes no fogo do inferno, tenha trinta ex-mulheres e pise em reiterados cocôs de cachorro.

domingo, outubro 02, 2005

Don't mess with Texas

O JORNAL Dallas Morning News tem um caderno inteiro chamado "Religion". Isso não explica tudo, mas revela boa parte.

sábado, outubro 01, 2005

Saudades de um país que não existe

É TÃO ESTRANHO entrar numa CVS sem precisar comprar leite. Por um momento, me senti transportado para um tempo que não existe mais, um país que não existe mais. Olhei para os galões -- Garelick, é lógico -- e quase tive o impulso de abrir a geladeira e pegar um. Aí acordei. Comprei um pacote de Reeses, uma loção de barba e saí para andar no calor do outono do Sul profundo.