Forçou a amizade
MEU HERÓI Washington Novaes, em seu afã (justíssimo) de impedir a realização dessa obra cara, inútil e corrupta que é a transposição do São Francisco, deu uma megavacilada em sua coluna de hoje no Estadão. Usou UM ÚNICO modelo climático do Hadley Centre, na Inglaterra, para dizer que a transposição é bobagem porque, com o aquecimento global, as descargas dos rios no Nordeste vão crescer de 25% a 150%. Prazo? "Ao longo do século 21".
Washington é sem dúvida (talvez o Marcos Sá Corrêa discorde) não só o pai do jornalismo ambiental brasileiro como talvez o maior jornalista ambiental em atividade no país. Mas desta vez ele foi longe demais. A transposição é uma bobagem por um zilhão de motivos, pisados e repisados em sua coluna semanal, mas não por isso. Ninguém, nem Tony Blair em sua fase mais verde, formularia uma política pública com base em um único modelo climático. O IPCC usa NOVE modelos, e na maior parte do tempo eles não conversam entre si, dão resultados disparatados por uma série de razões (basicamente, o resultado de um modelo computacional depende, óbvio, de como você o alimenta, e em climatologia cada cabeça é uma sentença). Não que os meteorologistas sejam desonestos ou burros, mas é que equações não-lineares e a simulação de um sistema tão complexo quanto o clima global são mesmo coisas muito difíceis. A teoria do caos, Daniel me corrija se eu estiver errado, é um spin-off da meteorologia.
O sinal de chuvas no Nordeste tem sido um dos fatores mais debatidos da modelagem climática na América do Sul. Por algum motivo, cada simulação dá uma coisa. Carlos Nobre, do Inpe, por exemplo, concluiu que ainda não dá pra prever o que vai acontecer de fato num cenário de aquecimento global no Nordeste. Por lo tanto, meu caro Washington, devagar com o andor.
Washington é sem dúvida (talvez o Marcos Sá Corrêa discorde) não só o pai do jornalismo ambiental brasileiro como talvez o maior jornalista ambiental em atividade no país. Mas desta vez ele foi longe demais. A transposição é uma bobagem por um zilhão de motivos, pisados e repisados em sua coluna semanal, mas não por isso. Ninguém, nem Tony Blair em sua fase mais verde, formularia uma política pública com base em um único modelo climático. O IPCC usa NOVE modelos, e na maior parte do tempo eles não conversam entre si, dão resultados disparatados por uma série de razões (basicamente, o resultado de um modelo computacional depende, óbvio, de como você o alimenta, e em climatologia cada cabeça é uma sentença). Não que os meteorologistas sejam desonestos ou burros, mas é que equações não-lineares e a simulação de um sistema tão complexo quanto o clima global são mesmo coisas muito difíceis. A teoria do caos, Daniel me corrija se eu estiver errado, é um spin-off da meteorologia.
O sinal de chuvas no Nordeste tem sido um dos fatores mais debatidos da modelagem climática na América do Sul. Por algum motivo, cada simulação dá uma coisa. Carlos Nobre, do Inpe, por exemplo, concluiu que ainda não dá pra prever o que vai acontecer de fato num cenário de aquecimento global no Nordeste. Por lo tanto, meu caro Washington, devagar com o andor.
3 Comments:
Fala Paranthropus!
Pelo visto o novo Ano Novo tem te dado algumas dores-de-cabeça, hein?!
Mas, pense assim: "Esse ano já acabou!" Olha só: Carnaval, Copa do Mundo, Eleições, etc... precisa de mais?! O ano vai passar rapidinho... ;)
Quanto a Teoria de Sistemas Dinâmicos... eu não tenho certeza de que ela tenha "nascido" com o estudo da climatologia. Equações Diferenciais [Ordinárias] não-lineares já eram estudadas há muito tempo antes daquela fatídico artigo em que Lorenz decidiu dar como exemplo o "bater das asas duma borboleta na Amazônia"! :) Eu acho que esse seja um fenômeno mais sociológico, no sentido de que a coisa "pegou fogo" depois que começaram a falar de "caos" e notaram que um bom exemplo era o Clima.
[NB: Não é difícil de achar caos em física (criticalidade auto-organizável) ou engenharia (pontes que caem), mas não costumam ser exemplos corriqueiros, por assim dizer.]
Agora, um fenômeno que começou a muitíssimo pouco tempo (no máximo uns 2 anos pra cá) é o emprego de físicos no estudo de modelos climáticos: Eu conheço [pelo menos] dois que estão trabalhando nessa área... e foram pra lá justamente pra levar a experiência que a gente já adquiriu com simulações em física.
Na verdade, os modelos computacionais que existem hoje são bem precários... aliás, os que eu vi pessoalmente deixam, e muito (!), a desejar. Então, esse pessoal que tem começado essa troca interdisciplinar tem levado muito know-how pra melhorar não só os modelos, mas para torná-los mais robustos também. Como se tratam de sistemas caóticos, no final das contas tudo depende das "Condições Iniciais"... então, é preciso que os algoritmos sejam realmente robustos para que se possa confiar nos dados obtidos através deles. Por enquanto, pessoalmente, eu não amarraria meu burro em nenhum deles...
Ainda mais quando se trata da Transposição do São Francisco: Até parece que é preciso um argumento dessa natureza pra se demonstrar a estupidez da coisa. :(
De qualquer maneira...
Um EXCELENTE Ano Novo pra todos nós! :)
PS: Se vc passar por São Paulo, quem sabe a gente não pode ir comer uma pizza (Speranzza?) enquanto meu visto não sai?! ;)
Boa! Passo por São Paulo todo santo dia, desgraçadamente.
Então estamos pseudo-marcados. Anota aí o meu email: danieldf [at] brown [dot] edu. Eu tenho que resolver uns pepinos com o meu visto e acho que não vou poder voltar antes da semana que vem... então, me escreve que a gente tenta marcar um dia pra por a fofoca em dia ao vivo e em cores. ;-)
Postar um comentário
<< Home