Ideias antigas

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

sábado, maio 05, 2007

O rei e eu


O DIA PARECIA ter começado perfeito. Fazia sol de manhã em Bangkok pela primeira vez na semana, e o inferno da Unescap havia finalmente acabado. Era dia de conhecer a cidade.
Melhor ainda: queriam que eu ficasse até terça, pra fazer um "sélviço" adicional. Mas a British Airways não trabalha nos sábados. A mim restava passear pelos vastos domínios de Sua Majestade, O Mais Perfeito, Idolatrado, Professor dos Quatro Guarda-Chuvas, Pauzudo e Muito Viril Rei Bhumibol Adulyadej.
O figura acima é o monarca do Sião. Os tailandeses parecem ter alguma coisa com ele. Deve ser mesmu um puta rei, porque a foto do sujeito adorna cada prédio, cada poste, cada repartição pública, templo e sanfona de aeroporto. No kidding.
Neste ano, Sua Majestade completou seu sexagésimo quarto aniversário. De REINADO, mind you. E eu estive por um triz de ter um tète-à-tète com ele, em pleno palácio real, muma tarde escaldante antes da chuva das seis. Me senti a própria Jodie Foster.
Bom, o dia perfeito na verdade tinha seguido mal. Caí numa armadilha de turistas e viajei 100 quilômetros no trânsito infernal de Bangkok (carro aqui custa barato, então todo mundo tem, então TUDO está SEMPRE engarrafado. Coisa de assustar até paulista) para conhecer uma merda de mercado flutuante que... bom, mas isso é outra história.
Meu grande objetivo no dia era conhecer o Grande Palácio, cartão-postal da cidade e o templo budista mais incrível (e, a propósito, o primeiro) que eu já visitei. Ele tem duas stupas de OURO, só pra situar o leitor.
Pois bem: tinha uma muvica no palácio na hora que eu cheguei lá. O taxista malandro que me havia dado o golpe olhou pra mim e disse que estava fechado. Por que a principal atração turística da cidade estaria fechada? "O rei". Claro que duvidei do cara e fui conferir.
A primeira parte da informação era falsa: o templo estava abertíssimo e lotadíssimo. Pessoas desfilavam às centenas com camisetas pólo amarelas, todas iguais. É a cor do rei. Claro.
Entrei (não sem antes alugar uma calça ridícula, já que não deixam entrar no templo de bermuda). Súditos e turistas esperavam sentados, com suas camisinhas amarelas, debaixo de um sol de 35 graus, atrás de cordões de isolamento. Parecia fila pra show do RDB. Sua Majestade caminharia por sobre passarelas montadas especialmente para Ele. Ali, na cara do povão, sem seguranças na porta, sem detetor de metais. "Que ótimo dia para visitar o templo", comentou um australiano, câmera em punho.
Será que o budismo deixa as pessoas pacatas ou sem noção?
O povo se agita. Passa um milico enxotando todo mundo da marquise. "Reo, reo!" Seria a hora?
Decidi não esperar. Tinha calor e sede e ainda precisava comprar pimentas, muitas pimentas.