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Apenas uma relíquia do Plioceno...

terça-feira, julho 01, 2008

Desconstruindo Azevedo

O INCANSÁVEL JOSÉ CARLOS AZEVEDO ataca novamente. Hoje, na Folha, faz um samba do climatologista doido para tentar justificar sua birra contra o IPCC e as leis da física. Como muita gente pode achar que o currículo do doutor Azevedo o autoriza a falar merda em jornal, aqui vai, no estilo que Andrew Revkin copiou deste blog (rsrs), o artigo anotado de Azevedo:





N. WIENER graduou-se em matemática aos 14 anos e doutorou-se em lógica aos 18 na Universidade Harvard. Conhecido como pai da cibernética, contribuiu para outros ramos da ciência e afirmou que as "tentativas de modelar o clima espremendo equações da física em computadores, como se a meteorologia fosse uma ciência exata como a astronomia, estão condenadas ao fracasso", que a "auto-ampliação de pequenos detalhes frustraria qualquer tentativa de prever o clima" e que "os líderes dessa atividade estavam iludindo o público ao pretender que a atmosfera é previsível".
[Azevedo parece desconhecer fatos elementares sobre a escola que ele mesmo cursou, o MIT, do qual Norbert Wiener foi um dos maiores expoentes. Acontece que Wiener morreu em 1964, antes de as teorias de outro docente ilustre do MIT, Edwarz Lorenz, virarem mainstream científico. Lorenz propôs nos anos 1960 as bases da teoria do caos, que orientam hoje toda a meteorologia e toda a climatologia]



Opinião semelhante foi a de J. von Neumann, matemático que contribuiu para a mecânica quântica, as teorias dos jogos e dos computadores, o projeto da bomba de hidrogênio e a previsão do tempo.
[Ditto. Von Neumann morreu em 1957, um ano antes de Charles Keeling iniciar seus trabalhos no Mauna Loa e numa época em que a climatologia ainda se baseava em uma noção dos anos 1930 de que os humanos eram uma força pequena demais para mexer no clima. A ciência avançou desde então; Azevedo não acompanhou.]



Há quase 20 anos, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês), órgão da ONU, patrocina a novela do aquecimento global e faz "previsões" sem amparo científico.
[Não há o que comentar aqui, pois Azevedo não embasa sua opinião, simplesmente emite um juízo de valor.]



Dois grupos distintos cuidam do clima: o dos cientistas, que conhecem a complexidade do problema e procuram decifrá-la, e os "modeladores", que usam teorias do século 19 e "prevêem" o clima até o final dos séculos.

Este segundo grupo usa computadores colossais, faz projeções e estimativas, fala de indícios e vestígios, já consumiu US$ 50 bilhões e nada contribuiu para elucidar o problema.
[Errado: o problema foi, sim, elucidado pelo IPCC, com um intervalo de confiança de 95%. Basta ler a primeira parte do AR4, último relatório do painel, de 2007.]



Quer frear o desenvolvimento mundial e levar países à miséria ao propor a redução drástica do uso de combustíveis fósseis porque, diz ele sem provas, o dióxido de carbono (CO2) gerado pelo homem é o responsável pelo aquecimento. Reduzindo a emissão, acrescenta, o aquecimento no fim deste século será de uns dois graus e a natureza estará salva.

Mais eficazes são as propostas do Voluntary Human Extinction Movement e da Gaia Liberation Front, que querem extinguir a humanidade para salvar a natureza.
[Eu particularmente gosto dessa idéia. Acho inclusive que o doutor deveria se candidatar.]



Não há prova que o CO2 é responsável pelo "efeito estufa", mas é certo que o Sol e a água (nuvens, vapor d'água, cristais de gelo) condicionam a temperatura e o clima na Terra. O IPCC e seus 2.500 "cientistas", porém, culpam o CO2.
[De novo, Azevedo toma pau em história da ciência e mistura a grande obra do mestre Picasso com a grande pica de aço do mestre-de-obras. Que o CO2 é responsável pelo "efeito estufa" é algo estabelecido desde o século 18, com Jean-Baptiste Fourier e suas experiências de forçamento radiativo de gases. A dimensão global do CO2 na mudança de clima foi estabelecida em 1896 por Arrhenius. O debate inteiro não é sobre esse princípio físico elementar, a opacidade de alguns gases à radiação infravermelha - efeito estufa nada mais é do que isso -, mas sobre o papel das emissões humanas de CO2, em mudanças climáticas futuras, já que o clima é extremamente complexo e outros fatores além do CO2 o influenciam. E esse debate foi resolvido pelos climatologistas há tempos.]



Ocorre que o IPCC não estuda nada: faz resenha de trabalhos publicados [Sim, é exatamente para isso que o IPCC existe; para garimpar a literatura atrás das melhores evidências. E as evidências têm apontado para o aquecimento global antropogênico. É uma pena que Azevedo não tenha estudado epidemiologia, pois saberia a importância de meta-análises para o estabelecimento de relações de causalidade onde existem apenas correlações.], adultera-os quando lhe convém [mais uma afirmação sem prova] e alardeou a importância de dois deles, o de Michael Mann e o relativo às camadas de gelo extraído na Antártida, em Vostok.



O trabalho de Mann analisou a temperatura na Terra entre os anos 1000 e 1980 e disse que as emissões de CO2 a partir do início da era industrial causaram o maior aumento de temperatura daquele milênio. Pois esse trabalho é uma manipulação de dados e nem falam mais dele. [aqui está a única informação verdadeira do artigo de Azevedo: houve, sim, problemas sérios com os dados de proxy de Mann, que eram reconstruções paleoclimáticas. Esses dados foram corrigidos depois e seu gráfico, o ilustre "Taco de Hóquei", continua com a mesmíssima forma.]Quanto às camadas de gelo, é certo que o aumento da temperatura antecede o da emissão do CO2, e não o oposto.
[Primeiro, Azevedo dá mais uma prova de que está desatualizado: Vostok já era. O quente hoje na climatologia é o Domo C da Antártida, muito mais profundo. Depois, basta olhar para o gráfico do Domo C, que guarda registro de 800 mil anos, para ver que as curvas de CO2 e temperatura são na verdade SIMULTÂNEAS. O registro de Vostok mostra a mesma coisa.]



A banda de música do IPCC é o filme do Al Gore, cuja exibição foi proibida na Inglaterra por decisão judicial, exceto se mencionar as inverdades que contém: aumento do nível dos mares, morte de corais e ursos polares, Tuvalu, Vostok, malária etc.
[Al Gore não é do IPCC e seu filme nunca se propôs a ser um vídeo institucional do IPCC; o ataque aqui é desonesto.]



Restou ao IPCC citar os 2.500 "cientistas" e o seu "consenso" sobre CO2 "antropogênico". Consenso não é referencial científico e, se for questão de números, há muitas listas de consensos de cientistas qualificados, identificados e contrários ao IPCC: a de Frederick Seitz, antigo presidente da Academia Nacional de Ciências e do Instituto Americano de Física dos EUA e atual presidente da Universidade Rockefeller e do Instituto George Marshall, por exemplo, tem mais de 32 mil assinaturas. O último relatório do IPCC tem 51.
[Há aqui uma confusão, suponho que proposital, sobre o significado da palavra "consenso". Se por "consenso" você quer dizer um monte de neguinhos votando numa assembléia, Azevedo tem razão. No entanto, "consenso" em ciência tem outro significado. Quer dizer o ponto no qual uma idéia é robusta o suficiente a ponto de fazer previsões acertadas e de não ter ninguém mais na área que duvide seriamente dela. O aquecimento global antropogênico é um desses consensos, assim como a teoria evolutiva, a relatividade e vários outros.]



A compreensão da natureza do clima começou em 1610 com Galileu, descobridor das manchas do Sol. Em 1752, Franklin mostrou que as nuvens têm cargas elétricas. Em 1998, o Instituto de Pesquisas Espaciais da Dinamarca provou a influência da radiação cósmica no clima. Em 2006, o Cern, o maior centro de pesquisas nucleares, cujo acelerador de partículas tem 27 km, criou um consórcio com dezenas de universidades e cientistas para ampliar as descobertas na Dinamarca que provam que o campo magnético do Sol controla a radiação cósmica incidente e, portanto, o clima;
[Não precisava ter ido tão longe; que o Sol controla o clima da Terra é um truísmo, e a maneira como ele controla foi demonstrada na 1ª Guerra por Milankovitch.]

e que a passagem do Sol pela Via Láctea explica as glaciações e interglaciações.
[Além de apedeuta em climatologia, Azevedo ignora a astronomia. O Sol não pode "passar pela Via Láctea" estando dentro dela. Depois, é o movimento da Terra, não do Sol, que explica as glaciações. Parem de dar Aristóteles para esse menino!]

Os "modeladores" iludem a população e não dizem que o pólo Norte de Marte está derretendo.
[Cheirou maconha. Parem de dar drogas para esse menino!]

Os investimentos em computadores profetas devem ser destinados às pesquisas em biologia.
[E se alguém descobrisse que as plantas causam o aquecimento global, o doutor iria pedir investimentos em climatologia?]

As plantas retiram da atmosfera, por ano, bilhões de toneladas de carbono, e um bom laboratório -a Embrapa, por exemplo-, com um mínimo daqueles US$ 50 bilhões, pode desenvolver plantas que absorvem mais carbono. Elas farão o ar mais limpo e produzirão mais alimentos.
[Até que enfim uma afirmação com a qual eu concordo! Realmente é preciso injetar bilhões de dólares na Embrapa. Acontece que desenvolver cultivares sem a menor noção de como será o clima futuro é algo que nenhum plant scientist que eu conheço se dispõe a fazer. Mais uma área da ciência sobre a qual o doutor pontifica sem conhecimento.]



JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 76, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).