Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Ano Polar Internacional

O ANO DE 2007 será comemorado como o Ano Polar Internacional. A idéia é ótima e vem em boa hora; afinal, é preciso aproveitar enquanto o adjetivo "polar" ainda tem o sentido que tem.

O happening é tão importante que o último aconteceu há 50 anos e teve como seu marco a construção da base Amundsen-Scott, no pólo Sul. Neste ano, vão furar o lago Vostok e, dizem as más línguas, inaugurar uma praia de nudismo no Alasca.

Mas é obrigação deste blog lembrar que o álcool também é uma molécula polar, como vocês se lembram das aulas de química.

Então, minha contribuição ao Ano Polar Internacional será a revelação do segredo mais bem-guardado do Programa Antártico Brasileiro: o tradicional brinde da Marinha.

O negócio é longo, e as brumas etílicas das Shetlands do Sul já mo borraram da lembrança. Mas ele é recitado mais ou menos assim:

Saracu de nazareno
Reboco de igreja velha
Terno branco de boliviano
Ceroula de turco viajado
Chicote de rabo de tatu

Eu bebo
Porque vejo no fundo do copo
A imagem da mulher amada
Sai, danada!
Sai, danada!

A la riba
A la bajo
A la costado
A la outro costado
A la centro
A la dentro!

E el fígado...
QUE SE FUEDA!!!

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Índio quer hidrelétrica

RETIRO TUDO O QUE DISSE sobre índio não saber negociar. A jogada do governo Morales com as usinas do Rio Madeira foi de mestre. Evo colocou primeiro o Fórum das ONGs da Bolívia para protestar por supostos impactos ambientais das DUAS usinas (Santo Antônio e Jirau). Ameaçou fazer do assunto as papeleiras de Lula.
Depois que o Brasil ameaçou abrir as pernas, os bolivianos foram direto ao ponto: eles querem MAIS DUAS usinas do lado boliviano do rio, o que, bem, DUPLICA, em tese, o impacto ambiental das usinas.
Pero el medioambiente? Quién habló en el medioambiente?

Boa, Evo.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O que é isso, deputado?

NEM MESMO UMA cabeça boa como a do companheiro Fernando Gabeira (o último sujeito de esquerda neste país) está isenta de deslizes. Em artigo na página 2 da Folha no sábado e em entrevista hoje ao Valor Econômico, o nobre ambientalista diz, acertadamente, que o aquecimento global não é o fim do mundo e que representa enormes oportunidades. Mas ataca o IPCC, a quem acusa de ter "adotado um tom mais de alarme" em seu último relatório.

Como é que é?

Quem quer que tenha lido o sumário executivo do Terceiro Relatório de Avaliação e depois o do AR4 sabe que a verdade é a inversa: o IPCC nunca foi tão sóbrio. Descartou extremos improváveis, como os decantados 5,8 e 88. Dizem por aí que inclusive eles deixaram dados mais apocalípticos e recentes sobre geleiras de lado deliberadamente (pressão americana?). Se suas conclusões caíram na boca do povo desta vez, é por um fenômeno sociológico-midiático que ninguém conseguiu explicar ainda, mas que meu professor de mecânica do colegial provavelmente chamaria de "momento".

Gabeira também comete um lapso estranho ao dizer ao Valor que o PAC (Programa de Aceleração do Calentamento) é "pré-aquecimento". Desentendi o que ele quis dizer aqui. Mas torço para que não tenha sido um statement stalinista do tipo "antes do AR4 o problema não existia".

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Maktub

QUER SABER o que o futuro reserva à Amazônia em 2007? Leia a página B12 do Valor Econômico de hoje. Duas notícias ali merecem uma pausa para reflexão.

Primeiro, a de que a estatal Chinatex vai ampliar de 1,6 milhão para 2 milhões de toneladas suas compras de soja em grão do Brasil. Diz ao Valor Liones Severo, diretor da empresa no país: "Em dois anos, a China terá de aumentar em 10 milhões de toneladas as importações de soja em grão. O Brasil terá um papel fundamental nisso".

Agora olhe o mapa e me explique de onde vai sair essa sojeira toda.

Outra declaração de Severo ecoa previsões que Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, acusado pela direitinha progressista de ser um maldito profeta de um apocalipse que não virá nunca, andou dando em 2003.

Em entrevista a meu compadre Claudio Angelo, na Folha, Brown disse que o planeta levaria um "chacoalhão" para acordar sobre o aquecimento global. Qual seria esse chacoalhão?

"O preço da comida. A escassez de água está se tornando um grande problema. Se há escassez de água, há escassez de comida. Minha aposta é que o chacoalhão virá com a China, cuja produção de grãos foi de 9 milhões de toneladas em 1950 para 390 milhões de toneladas em 1998, e agora caiu para 340 milhões de toneladas. No próximo ano ou dois, teremos 1,3 bilhão de consumidores chineses competindo no mercado com os consumidores americanos pelos grãos americanos. E esse 1,3 bilhão de chineses tem US$ 100 bilhões de dólares de superávit comercial com os EUA. Uma geração atrás simplesmente imporíamos um embargo às exportações para impedir o preço de subir. Mas, agora, temos interesse na estabilidade da China, porque a economia chinesa é o motor da economia mundial. Eu acho que nesse ponto, quando os preços dos alimentos subirem muito, começaremos a achar que há alguma coisa mudando. Isso será dramático se ficar claro, como eu acho que ficará, que as altas temperaturas estão reduzindo a produtividade."

Agora, a declaração de Liones Severo ao Valor: "Trigo e milho são muito vulneráveis ao clima e a China tem problemas sérios com água". Destaque-se que não é culpa só do efeito estufa, mas também da política comunista de manejo ambiental (que, afinal, permitiu que a China chegasse aonde chegou).

A segunda notícia está logo abaixo: a previsão da Conab de safra recorde em 2006/07, que indica recuperação do agronegócio.

Vamos ver como isso se reflete nos índices do Prodes em dezembro.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Climáticas 2

O QUE REALMENTE IMPORTA
O IPCC divulgou, como todos sabem a esta altura, sua previsão "apocalíptica-ma-non-troppo" de um aquecimento de 1,8 a 4 graus Celsius do planeta até 2100. OK. Esse é o destino da humanidade. Mas o que realmente me importa agora é saber qual será o destino de HARRY POTTER. Stay tuned.

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HERE COMES THE SUN, LITTLE DARLING
Segundo me informam, a Folha de São Paulo elegeu o tema das mudanças climáticas como prioridade do jornal em 2007. Tem gente se perguntando por que isso justamente agora e como é que uma prioridade vai sair em meia página.

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PLURALISMO
Um amigo meu, jornalista de política da Folha, me perguntava na véspera do AR4 se esse tal IPCC teria ouvido "o outro lado". Para ele, o filme do Al Gore parecia "tendencioso". Ooooy.

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SOM LIVRE
E o Estadão diz, num editorial inacreditável, que o IPCC não passa de um bando de doomsday scientists, que erra ao "enfatizar somente a natureza escatológica" etc e, mais incrível de tudo, que o relatório "não tem nada de novo, só uma compilação de estudos conhecidos". Acho que colocaram alguém do caderno Dois pra fazer o editorial e o cara pensou que estivesse escrevendo sobre uma dessas coletâneas do Roberto Carlos.

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TECHNOLOGICAL FIX
Mais inacreditável ainda, o editorial conta com o "espírito" e o "engenho" humanos para resolver um problema que ele nega que seja causado por seres humanos. Confere? Meu terapeuta chamaria isso de dissociação.

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É ESSO AÍ
Mas a notícia climática do ano não foi o relatório do IPCC. Foi o anúncio do lucro de 39,5 bilhões de doletas pela Exxon (aquela empresa que mandou Bush demitir Bob Watson do IPCC - e foi atendida - e que distorceu relatórios americanos sobre mudança climática). NENHUM jornal brasileiro deu destaque a essa notícia na capa de sexta, muito menos ligando o fato com os acontecimentos em Paris.