Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

segunda-feira, junho 26, 2006

Fábula

ERA UMA VEZ um Tucano. Cansado de voar toda semana entre Vitória e Brasília, ele decide se aposentar e criar camarão.

O problema é que tinha umas baleias no meio do caminho, que vão parir justamente nos recifes alimentados pelo manguezal onde Tucano quer criar camarão.

O que Tucano faz? Usa seus superpoderes e sua influência para convencer Raposa Velha e Tourinho, mais uma ou outra Cobra, a assinar um decreto mandando as baleias catar coquinho.

Tucano diz não ver conflito de interesses. Mas já põe a cervejinha pra gelar, esperando o dia de comer camarão no bafo vindo lá do mangue da baleia.

terça-feira, junho 20, 2006

Papa chibé

EM HONRA AOS DOIS OU TRÊS PARAENSES DE NASCIMENTO OU ADOÇÃO QUE FREQÜENTAM ESTE BLÓGUE, TOMEI A LIBERDADE DE REESCREVER A TRÁGICA "reportagem" de uma certa Heloísa Lupinacci para a Folha de S.Paulo, caderno Turismo, sobre Belém do Pará.
Disclaimer: mantenho a ortografia da autora.


São Paulo: Cidade intercala encantos e problemas

HELOISA LUPINACCI
Enviada especial a São Paulo (SO)

Bem no centro de São Paulo fica o Páteo do Colégio, construção ligada à origem da cidade. Erguido no século 16, está voltado para o encontro do rio Tietê com o asfalto. De lá, das grossas paredes de pau-a-pique, se tem a melhor vista para o principal ponto turístico da capital paulista: a Praça da Sé.

Entre o páteo e a praça, avista-se um trecho bastante degradado, em que homens e mulheres tomam banho nas águas do chafariz, comem churrasco grego em barraquinhas e dormem em papelões esticados nos bancos que ficam ali atracados.

Apesar de a descrição soar algo bucólica, a cena não é bonita. Tudo sujo, o mau cheiro toma o ar e o moço da farmácia no meio do cenário avisa: cuidado com o "mão fina" (batedor de carteira).

São Paulo é assim: intercala lugares lindos a trechos degradados. À primeira vista, a cidade é feia. Suja, esfumaçada, quente, bagunçada. As calçadas são tomadas por barracas, que, à noite, se transformam em amontoados de gente e desencorajam o turista de caminhar.

A reação é evitar o passeio. Mas ela pode ser exagerada. Um motorista de táxi se recusa a fazer a corrida: "Mas a Liberdade [destino da corrida] é a cinco quadras daqui, vá caminhando". Não é perigoso? "Não. Pode ir", garante.

Ao passar dos dias, a cidade vai mostrando seu lado bonito. São museus, prédios, vistas do rio. Lugares únicos, que só poderiam estar lá, mas são isolados. Não formam um conjunto bonito, porque não estão colados uns aos outros. Ficam escondidos na bagunça geral, que camufla também iniciativas de revitalização, como a Praça do Patriarca, uma praça montada dentro de uma parada de ônibus reformada, e o Parque da Luz --onde ficam a antiga estação, a Sala São Paulo e o Museu de Moderna. Pontos que são ilhas na cidade.

À terceira vista, na volta da viagem, a primeira impressão é confirmada. A cidade é feia. Mas aqui e ali há lugares que compensam a longa jornada.

A viagem, aliás, não é só longa como é cara. A passagem aérea pode custar R$ 1.440 (veja preços na pág. F5). Assim, é difícil encarar a cidade como um destino turístico --exceto para fãs de gastronomia e arquitetura.

Porém, aqueles que rumam a destinos de natureza nos arredores passarão alguns dias na cidade. E, nesse tempo, poderão reunir boas lembranças.

sexta-feira, junho 16, 2006

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A CÂMARA DE VEREADORES do Rio de Janeiro, aquela mesma instituição que quer proibir experiências científicas em animais, condecorou anteontem o cantor de ópera, ex-gordo e ex-deputado Rouberto Jefferson.

Amigos estatísticos me garantem que não se trata de mera coincidência.

terça-feira, junho 13, 2006

Leite, Lattes, Santos-Dumont e "os outros"

ESCREVI ONTEM um longo e-mail a Steven Weinberg, da Universidade do Texas, Nobel de Física em 1979 por ter unificado as forças fraca e eletromagnética. Pedi a ele que comentasse a "triste notícia" da morte de José Leite Lopes, até ontem de manhã o maior cientista brasileiro vivo, inclusive citado pelo americano em sua Nobel Lecture. Queria saber qual era a dimensão da perda "para a ciência mundial". O judeu Weinberg respondeu meia hora depois, com uma franqueza anglo-saxã:

"I don't think I ever met Leite Lopes, but I knew of his work through the physics literature. He was a fine theoretical physicist."

Meu herói mítico, orgulho da minha pátria, foi, portanto, reduzido a "a fine theoretical physicist", assim, sem vaselina, sem condolências. E sem nenhuma piedade. Weinberg reduziu o genial Leite Lopes àquilo que ele de fato foi para a ciência: uma nota de rodapé, um rebite na ponte levadiça do castelo teórico rebocado e ocupado depois por Weinberg e pelo paquistanês Abdus Salam.

Leio na Folha de hoje declarações de alguém se saindo com a tirada máxima da autocomiseração brasileira: pôr a culpa nos outros. Algo do gênero "Leite só não ganhou o Nobel por alguma razão de natureza política e social" blablablá. Conspiração internacional. Preconceito. Só porque o cara era latino. Malditos ianques. Me lembrou algo que o próprio Leite me dissera no ano passado, quando da morte de César Lattes: "Só não ganhou o Nobel porque o sujeito que trabalhava com ele morreu". Ou o que as pessoas dizem em relação aos Wright e Santos-Dumont. Omnis et semper tentando justificar a incompetência nacional com alguma força oculta, alguma marcação de Deus contra o patropi.

Bom, uma vez que o capítulo Deus parece encerrado (veja post abaixo), resta a explicação mais parcimoniosa: o Brasil simplesmente não é um país de grandes inovadores. Nossos gênios da ciência e da tecnologia não são reconhecidos simplesmente porque não existem. E a culpa não é de algum vício inerente à mistura de raças nem ao clima tropical. Crioulos ganharam o Nobel antes. Abdus Salam, do Paquistão. Mario Molina, do México (OK, filho de família rica, estudou na Suíça, mas hispano ainda assim). Dois ou três argentinos. E uma caralhada de indianos.

Trata-se de uma questão meramente aritmética: o país não produz gênios da "ciência mundial" porque não produz cientistas. E não produz cientistas porque ninguém vai à escola. E ninguém vai à escola porque a escola é uma merda. Quantos "quase-Nobel" os EUA produziram? Gazillions. Índia mais pobre do que nós? Alemanha, França? Itália, que curiosamente produz menos ciência que nós? Todos convenientemente citados numa Nobel Lecture e depois esquecidos, ocupando alegremente o lugar que merecem, de rebites no castelo teórico comprado, conquistado ou grilado por outrem. Ciência é assim mesmo. Mas nenhum desses países precisa venerar quase-gênios, quase-inventores, quase-pioneiros.

A melhor homenagem ao Leite seria se parássemos de culpar os outros pela nossa incompetência e resolvêssemos pôr a mão na massa (e as escolas pra funcionar), pra variar um pouco.

quarta-feira, junho 07, 2006

Para comer a bola esquerda a um mês das férias

VOCÊ SABE QUE MERECE UMA MORTE HORRÍVEL e o inferno dos manés vacilões quando está consultando seu saldo de milhas, a um mês das suas férias, e se dá conta de que aquela sua viagem para os EUA e aquela sua outra viagem para a Europa no ano passado, a trabalho, foram feitas por companhias parceiras do programa de fidelidade da TAM. E que você não incluiu nem uma nem outra no seu cartão.

terça-feira, junho 06, 2006

Parabéns, Sonserina, mas...

NO DIA MUNDIAL do meio ambiente, EcoLula anunciou novos parques, distrito florestal sustentável, programa de ecoturismo e o asfaltamento da bendita 163 sob estritos critérios socioambientais.

Parabéns, Lula. Mas, pra não perder o hábito:

1 - Quem vai cuidar da pavimentação é o Oitavo BEC, o Batalhão de Engenharia de Construção, de Santarém. Não houve um sojeiro que se dispusesse a entrar com dim-dim. O consórcio formado por Cargill e cia se desfez diante do atraso e das exigências ambientais da obra. Ou seja, o meu, o seu, o nosso mais uma vez financiarão benesses para a "competitiva" tecnomonocultura brasileira.

2 - Enquanto isso, a BR-158 segue sendo licenciada com três vezes menos exigências. Esta, sim, atende a um grupo de soja muito bem identificado: o grupo AMaggi, de propriedade de você-sabe-quem.

3 - Sensacional o Capô e a Marina dizerem que querem incentivar o ecoturismo na Amazônia e nos parques nacionais. Eu tô na fila. Mas, se é assim mesmo, por que o governo aceita o azougue que Mato Grosso está fazendo no salto dos Dardanelos, área do Proecotur, onde, dizem, a Odebrecht já tem até canteiro de obras para fazer uma hidrelétrica cara e inútil?

segunda-feira, junho 05, 2006

Evidência experimental

UM UCRANIANO DE 45 ANOS conduziu ontem um dolorido mas engenhoso experimento para provar a inexistência de Deus. Espero que agora as pessoas dêem o caso como encerrado.


KIEV, Ukraine (AP) _ A lion killed a man who climbed into its enclosure in the Ukrainian capital’s zoo, police said Monday.The lion attacked the 45-year-old Ukrainian late Sunday after he used a rope to climb down into an enclosure with four lions, said Kiev police spokesman Volodymyr Polishchuk.
He said the man, who was not identified, was acting aggressively and the lion seized him by the throat. The man, an ethnic Azerbaijani, died at the scene.
Ukrainian TV channel NTN broadcast interviews with witnesses who said the man told them that he wanted to test God, believing that God would not allow the lions to hurt him.
Zoo officials could not immediately be reached for comment.