Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quarta-feira, junho 27, 2007

Las agruras de Machupicchu


IMAGINEMOS O SEGUINTE CENÁRIO: No começo do século XX, um aventureiro bilionário venezuelano chega ao Arizona, descobre um verdadeiro tesouro de ossos, cerâmica e peças de turquesa Anasazi, carrega tudo para Caracas e tranca num museu. No século XXI, os EUA começam a pedir insistentemente que a Venezuela devolva as peças. Os índios dos Four Corners querem os ossos, que dizem ser de seus ancestrais. O governo americano diz que a devolução das peças ajudaria a carrear recursos para populações pobres dos Estados do Sudoeste, que poderiam ganhar com turismo arqueológico. O governo venezuelano dá de ombros: diz que os EUA não são uma democracia verdadeira e que as peças são frágeis e estarão mais seguras no museu de Caracas.
Troque Venezuela por Yale University, EUA por Peru e tesouro Anasazi por relíquias de Machu Picchu e você entenderá a polêmica existente hoje entre peruanos e americanos, fomentada por um artigo pra lá de racista assinado por um certo Arthur Lubow no Jew York Times de domingo. Os argumentos dos americanos para não devolver algo que foi EMPRESTADO dos peruanos e que pertence à sua cultura e à sua identidade nacional são de um cinismo incrível: a maioria vai na linha do "vocês não têm como gerenciar esse patrimônio, seus cucarachos de merda".
Lubow não só compra a versão neocolonialista ianque como acrescenta seus 20 centavos:
"O movimento pela repatriação de 'patrimônio cultural' por parte de
nações cujo passado antigo é tipicamente mais glorioso que sua história
recente..."

O que para meio entendedor soa como "quem mandou ser pobre"? Completa zombando do índio Alejandro Toledo, ex-presidente do Peru, que diferentemente de sua mulher, a francesa Eliane Karp, nem quéchua fala. E por aí vai.
Os Estados Unidos não são signatários de NENHUMA das convenções da Unesco sobre repatriamento de bens culturais ou sua proteção. Usaram isso a seu favor, por exemplo, quando arrasaram o patrimônio arqueológico do Iraque em 2003. E têm usado isso para atrair turistas e dinheiro para seus museus, como o Metropolitan, o Fine Arts de Boston e a franquia Peabody, de Yale e alhures.
Há, claro, exceções - como o acordo feito entre Harvard e o governo do Sudão para que parte do material escavado na Núbia ficasse em Boston. Mas o resto é pilhagem, sacanagem, grupo, balão, cambau ou como queiram chamar. E, se o grandalhão da escola toma o seu carrinho, pra quem você vai apelar?
Para a imprensa internacional é que não; pelo visto, o Jew York Times só é liberal dentro de casa.

sexta-feira, junho 22, 2007

"Com essa dá pra relaxar e gozar"

A FRASE NÃO É MINHA, não. É do Edu, meu ex-biólogo favorito, bonzinho que só ele. Mas não resisti ao chauvinismo. A delícia acima é Marina Mantega, filha do grande ministro da Fazenda, Guido Mantega. Aquele mesmo, que disse que o apagão aéreo era "o preço do sucesso" da pujante economia brasileira, só pra ser reprimido pelo popó Waldir Pires na seqüência.
Realmente, é o país da piada pronta.


segunda-feira, junho 18, 2007

O mistério do panda


GENTE, ALGUÉM CONSEGUE me explicar por que o WWF virou uma ONG esquisita?
Tempos atrás eles eram referência não só em conservação, mas em pesquisa. Inventaram o Arpa (high-five!). Inventaram a Pegada Ecológica. Tinham técnicos capazes, articulados, dedicados, e diretores que sempre atendiam as suas ligações.
Hoje o WWF parece que está contratando por concurso público. Tem assessores de imprensa engravatados (!), que chamam os técnicos de "doutor" (!!) e que não parecem ter A MENOR idéia do que estão fazendo. Para falar com alguém lá, você precisa passar por PABX e 40 aspones diferentes. Eles começaram a reciclar estudos. Seus relatórios não são mais grandes conclusões, mas sim pequenos oportunismos, lançados para coincidir com IPCC, Dia do Meio Ambiente etc.
Tem gato nese panda.

domingo, junho 17, 2007

Relaxe e goze

NA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA, tive o desprazer de participar de um seminário sobre os 15 anos da agenda ambiental desde a Rio-92, na Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

Digo desprazer não pelo evento em si, que contou com grandes figuras, como Tony Gross, Fernando Gabeira, Márcio Santilli e Paulo Moutinho. Mas por uma das mesas, que foi mediada pelo nobre deputado Juvenil Alves.

Lembra dele? Foi o deputado mais votado de Minas Gerais em 2006. Foi preso antes de ser diplomado no Congresso na Operação Castelhana, da PF, que investigava fraudes tributárias. A piada que corria na época era a seguinte: "Se Juvenil já rouba desse jeito, imagine quanto for adulto".

Poizé. Juvenil, eleito pelo PT, ganhou uma relatoria em troca de sua desfiliação do partido. Afinal, os companheiros já têm problemas o bastante, né? E a relatoria foi a da subcomissão do São Francisco, na Comissão... de Meio Ambiente da Câmara.

O garotinho estava visivalmente desconfortável. Aquiescia com a cabeça quando alguém falava de biodiversidade ou aquecimento global, como quando a gente fala com um estrangeiro que balança a cabeça apesar de não entender nada do que a genet fala, para não quebrar a empatia.

Foi o único na sala que não riu quando Sérgio Leitão, do Greenpeace, atacou a idéia de usinas nucleares contra o efeito estufa com a frase: "Nem a Gautama faria tanta usina tão rápido". Fiquei ali, a um metro do Juvenil, morrendo de vontade de mandá-lo para algum lugar que rimasse. Não fui macho o bastante.

À noite, voltei para Sampa City num vôo da Varig que atrasou duas horas. Segui à risca o conselho da nobre ministra Martha Favre (ex-Suplicy) e comprei a Trip da Luana Piovani. Só para relaxar, já que, em Brasília, só goza em público quem tem imunidade parlamentar.

sexta-feira, junho 01, 2007

Tradução simultânea II

NÃO FUI SÓ EU que traduzi para linguagem plena o dircurso de Baby Bush.

O jornal inglês The Independent também passou algumas de suas frases do bushês para o inglês. Vale a pena:


And what he really meant...
From the President's speech in Washington yesterday:


'In recent years, science has deepened our understanding of climate change and opened new possibilities for confronting it.'
Translation: In recent years, my refusal to acknowledge the reality and seriousness of global warming has turned me into a laughing-stock and contributed to my record low poll ratings. So now I have to look interested.


'The United States takes this issue seriously.'
Translation: Al Gore takes this issue seriously, his movie was a hit, and it's causing me no end of grief.


'By the end of next year, America and other nations will set a long-term goal for reducing greenhouse gases.'
Translation: By the end of next year, I'll be weeks away from the end of my presidency and this can be someone else's problem.

'To develop this goal, the United States will convene a series of meetings of nations that produce the most greenhouse gasses, including nations with rapidly growing economies such as India and China.'
Translation: We will look as busy as we can without doing anything.


'The new initiative I am outlining today will contribute to the important dialogue that will take place in Germany.'
Translation: The new initiative will put the brakes on the much more robust proposal the Germans are putting forward. As long as dialogue continues, we won't have to abide by any decisions

'Each country would establish midterm management targets and programmes that reflect their own mix of energy sources and needs.'
Translation: Nobody will be obliged to take any painful decisions.

'Over the past six years, my administration has spent, along with the Congress, more than $12bn in research on clean energy technology.'
Translation: But we've spent a lot more mollycoddling the oil and gas industries. We're the world's leader in figuring out ways to power our economy while looking after the environment.