Assim na Terra como no céu
ACABO DE LER a matéria da revista Veja sobre o glorioso astronauta brasileiro. É incrível e de certa forma irritante a grita da imprensa tupiniquim, toda ao mesmo tempo e agora, contra a viagem do "homem cordial" Marcos Cesar Pontes, cujo único pecado mortal é ser um saco de lugares-comuns.
Esse berrê deveria ter começado lá atrás, quando o Brasil embarcou na sandice de participar da Estação Espacial Internacional - um delírio megalômano tucano, bem ao estilo do príncipe FFHH, que os próprios tucanos não deram conta de manter depois. (Hoje, a fabricação dos parafusos que o Brasil prometeu para a ISS, um trabalho no mínimo digno de uma Embraer, está a cargo... dos torneiros mecânicos do Senai. Nada mais apropriado para os tempos de hoje.) Foi-se a ISS, ficou o mico treinando lá em Houston, Marcos Cesar "Home Alone" Pontes.
E agora, onde é que a gente enfia esse astronauta, heim? Muito simples, comissário: na Soyuz. "Mas custa 10 milhões de dólares!"
E daí?, pergunto. 10 milhões de dólares é menos que o que ex-mulheres mensalônicas sacavam em um dia da agência do Banco Rural. É menos que o menor contrato da DNA com o governo -- propaganda por propaganda, essa pelo menos pode estimular alguém a uma boa coisa, que é ingressar numa carreira científica. Além do mais, esse bagual já estava treinando havia sete anos, gastando o meu, o seu e o nosso. Seria o nosso atestado final de incompetência e de inviabilidade como país (vide o posto sobre o museu do Ipiranga) suspender a brincadeira de Pontes agora. (Fora que o Salvador não ia mais vender livro...) Do ponto de vista político, é a ironia suprema (ou não): o apedeuta de São Bernardo faturando em cima de algo que o príncipe da Sorbonne não conseguiu realizar.
Agora, uma coisa é achar que Pontes deve voar, outra é dizer que esses truques baratos de feira de ciências que ele está levando para o espaço vão "avançar a ciência nacional", como defendem alguns. A descrição dos experimentos é de chorar. De matar de vergonha. Faço minhas em relação a eles as palavras do velhinho do JB sobre o livro do Daniel Piza: o que é bom não é novo, o que é novo não é bom.
Não vou nem comentar a feijoada com couve dos aluninhos de São José dos Campos; eles talvez sejam os experimentos mais honestos selecionados pela AEB para a missão Centenário. Mas o resto? Francamente, comissário. Reparo de DNA? Isso é o microgravidade-101. Todo mundo já fez, os resultados estão no PubMed pra quem quiser ver. Dinâmica de enzimas? Brasileiros já fizeram, a bordo do shuttle, sem precisar ter um macaquito verde-amarelo no espaço para isso - vide as proteínas da jaca que a mãe de um amigo meu, professora da USP de Ribeirão, mandou tempos atrás. Germinação de árvore do cerrado "para ajudar na biologia da conservação"? Gimme me a freakin' break. A única biologia da conservação possível para o cerrado é parar de botá-lo abaixo para plantar soja. Bom, sobram talvez os dois experimentos da UFSC que, segundo me informa o Salvador Nogueira, poderão ajudar os donos de padaria Brasil afora.
Ao fim e ao cabo, os experimentos me lembram alguns projetos de balcão do Programa Antártico Brasileiro, tipo as coletas de algas anárticas que o pessoal da Federal do Ceará fazia com o relevante objetivo de... coletar algas antárticas. Com uma diferença importante (uma, pelo menos para quem acha que a exploração antártica e a exploração espacial tripulada têm o mesmo valor científico): o Proantar custa R$ 10 milhões por ano, entre logística e ciência. US$ 10 milhões é o valor anual do LBA, esse sim de relevância (e resultado) indiscutível, sob qualquer medida.
Pontes levará ao espaço a feira de ciências mais cara da história brasileira. Mas tudo bem: é carnaval, tem copa do mundo e eleição, e JK na tela da Globo dando risada da nossa cara. Conforta saber que é o primeiro e último astronauta brasileiro. E, entre o seu sorriso largo e aparvalhado e a careca do Marcos Valério nos jornais, eu sem dúvida fico com o primeiro.
Esse berrê deveria ter começado lá atrás, quando o Brasil embarcou na sandice de participar da Estação Espacial Internacional - um delírio megalômano tucano, bem ao estilo do príncipe FFHH, que os próprios tucanos não deram conta de manter depois. (Hoje, a fabricação dos parafusos que o Brasil prometeu para a ISS, um trabalho no mínimo digno de uma Embraer, está a cargo... dos torneiros mecânicos do Senai. Nada mais apropriado para os tempos de hoje.) Foi-se a ISS, ficou o mico treinando lá em Houston, Marcos Cesar "Home Alone" Pontes.
E agora, onde é que a gente enfia esse astronauta, heim? Muito simples, comissário: na Soyuz. "Mas custa 10 milhões de dólares!"
E daí?, pergunto. 10 milhões de dólares é menos que o que ex-mulheres mensalônicas sacavam em um dia da agência do Banco Rural. É menos que o menor contrato da DNA com o governo -- propaganda por propaganda, essa pelo menos pode estimular alguém a uma boa coisa, que é ingressar numa carreira científica. Além do mais, esse bagual já estava treinando havia sete anos, gastando o meu, o seu e o nosso. Seria o nosso atestado final de incompetência e de inviabilidade como país (vide o posto sobre o museu do Ipiranga) suspender a brincadeira de Pontes agora. (Fora que o Salvador não ia mais vender livro...) Do ponto de vista político, é a ironia suprema (ou não): o apedeuta de São Bernardo faturando em cima de algo que o príncipe da Sorbonne não conseguiu realizar.
Agora, uma coisa é achar que Pontes deve voar, outra é dizer que esses truques baratos de feira de ciências que ele está levando para o espaço vão "avançar a ciência nacional", como defendem alguns. A descrição dos experimentos é de chorar. De matar de vergonha. Faço minhas em relação a eles as palavras do velhinho do JB sobre o livro do Daniel Piza: o que é bom não é novo, o que é novo não é bom.
Não vou nem comentar a feijoada com couve dos aluninhos de São José dos Campos; eles talvez sejam os experimentos mais honestos selecionados pela AEB para a missão Centenário. Mas o resto? Francamente, comissário. Reparo de DNA? Isso é o microgravidade-101. Todo mundo já fez, os resultados estão no PubMed pra quem quiser ver. Dinâmica de enzimas? Brasileiros já fizeram, a bordo do shuttle, sem precisar ter um macaquito verde-amarelo no espaço para isso - vide as proteínas da jaca que a mãe de um amigo meu, professora da USP de Ribeirão, mandou tempos atrás. Germinação de árvore do cerrado "para ajudar na biologia da conservação"? Gimme me a freakin' break. A única biologia da conservação possível para o cerrado é parar de botá-lo abaixo para plantar soja. Bom, sobram talvez os dois experimentos da UFSC que, segundo me informa o Salvador Nogueira, poderão ajudar os donos de padaria Brasil afora.
Ao fim e ao cabo, os experimentos me lembram alguns projetos de balcão do Programa Antártico Brasileiro, tipo as coletas de algas anárticas que o pessoal da Federal do Ceará fazia com o relevante objetivo de... coletar algas antárticas. Com uma diferença importante (uma, pelo menos para quem acha que a exploração antártica e a exploração espacial tripulada têm o mesmo valor científico): o Proantar custa R$ 10 milhões por ano, entre logística e ciência. US$ 10 milhões é o valor anual do LBA, esse sim de relevância (e resultado) indiscutível, sob qualquer medida.
Pontes levará ao espaço a feira de ciências mais cara da história brasileira. Mas tudo bem: é carnaval, tem copa do mundo e eleição, e JK na tela da Globo dando risada da nossa cara. Conforta saber que é o primeiro e último astronauta brasileiro. E, entre o seu sorriso largo e aparvalhado e a careca do Marcos Valério nos jornais, eu sem dúvida fico com o primeiro.