Desconstruindo Azevedo, DE NOVO
SUPREMA IRONIA, o jornal que mais lutou pela redemocratização do país dedica página 3 após página 3 ao ex-interventor militar da UnB, José Carlos de Azevedo. Este blógue mais uma vez não resiste à tentação de detonar parágrafo por parágrafo a argumentação do ex-"reitor" em seu mais recente artigo na Folha.
"EM JANEIRO de 2008 nevou em Bagdá e isso não ocorreu em todo o século 20; no mesmo ano e no atual, nevou na Síria, na Turquia, na Grécia e em grande parte da Ásia. Na Europa e nos EUA o inverno é inclemente e nevou nos desertos de Mojave e de Las Vegas.
Qualquer pessoa que já tenha visto um filme do Theo Angelopoulos sabe que neve na Turquia e na Grécia é mais do que usual. Sobre Las Vegas, bem, os espanhóis que batizaram a região de NEVADA não devem tê-lo feito à toa.
Nada disso foi previsto pelos xamãs e videntes do IPCC, que, há 20 anos, fazem "projeções climáticas" para 20 ou mais anos depois.
Azevedo confunde tempo e clima. Como ninguém que tenha feito curso superior e ainda mais que diz entender do assunto pode confundir esses dois conceitos tão elementares por ignorância, suponho que tenha sido por má fé, para induzir o leitor leigo a erro.
Mas o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) previu as enchentes de Santa Catarina com acerto e uma semana de antecedência. A frase é de Mark Twain: "Clima é o que esperamos; tempo, é o que recebemos".
Assim como os serviços meteorológicos dos EUA, da Turquia e da Grécia previram as "anomalias" deste ano com antecedência. Porque é para isso que serviços meteorológicos servem: para prever o TEMPO.
Há hoje apenas uma prova do "aquecimento antropogênico": os computadores do IPCC e adeptos.
www.ipcc.ch
É certo que a quantidade de CO2 no ar cresce muito tempo depois de a temperatura aumentar. Satélites e sondas meteorológicos também comprovam que, nos últimos 13 anos, a temperatura ficou estável nos dez primeiros e caiu nos três últimos.
Essa suposta discrepância já foi solucionada há muito tempo com o auxílio de satélites e outros instrumentos. Azevedo não consulta a literatura científica produzida depois dos anos 1960. Nos últimos 13 anos tivemos 11 dos anos mais quentes da história. A queda nos últimos três ainda mantém a temperatura acima da média dos últimos 50 anos. Azevedo aqui comete, mais uma vez de propósito, o erro simples de viés de seleção, ou seja, apresenta só uma parte dos dados e tira conclusões em cima delas.
O clima na Terra muda há bilhões de anos e a temperatura sobe há uns 20 mil, desde o fim da Era Glacial, quando uma enorme parte do hemisfério Norte esteve sob uma camada de gelo com mais de um quilômetro de espessura e o nível dos oceanos era uns 150 metros inferior ao atual.
Fato.
Se não existe a teoria do clima, que modelos climáticos os videntes do IPCC processam nos seus supercomputadores?
Como assim "não existe a teoria do clima"?? Azevedo aqui usa um truque retórico favorito de seu colega da turma dos simpatizantes da repressão Paulo Salim Maluf: lançar uma premissa falsa para depois desmontá-la com uma argumentação impressionante.
Um estudo de Koutsoyianis e outros autores, de 2008, confirma que "o desempenho dos modelos é fraco; em escala de 30 anos (...) as projeções não são confiáveis e o argumento comum de que o seu desempenho é melhor em larga escala não tem fundamento".
Mais uma vez, ele seleciona evidências. Fala de UM estudo e esquece as outras centenas que apontam a conclusão oposta.
Em 2007, K.Trenberth, meteorologista do IPCC, disse que "não há previsões climáticas feitas pelo IPCC. E nunca houve". Mas os xamãs dizem que há "consenso científico" sobre a influência do CO2 no clima, o que fez R. Lindsay, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA), dizer: "Chegaram ao consenso antes de a pesquisa ter começado".
Vale a pena perder um momento aqui para dizer quem é Kevin Trenberth: um dos maiores climatologistas do mundo, da Universidade do Colorado, Trenberth é o autor de um estudo interessantíssimo argumentando que a temporada de furacões de 2005 é atribuível à temperatura média mais alta do Atlântico, produto por sua vez do aquecimento global. Não exatamente alguém que se poderia chamar de cético do clima. Sem entrar no mérito de que a frase citada por Azevedo pode ter sido tirada de contexto (e foi), ela está rigorosamente certa: o IPCC não faz previsões, e sim aponta cenários mostrando o que acontecerá com o clima para cada trajetória de emissões. Uma diferença sutil, mas importante.
O que significam então os fatos mencionados no primeiro parágrafo? Só os pobres em espírito sabem.
Elementar, meu caro Azevedo: os fatos citados no primeiro parágrafo significam que o clima da Terra varia muito. Isso nada tem a ver com riqueza ou pobreza de espírito.
É ainda impossível provar se a Terra aquece ou esfria ou se começou a nova Era Glacial anunciada nos anos 1970 por atuais videntes do IPCC.
Já foi mais do que noticiado por jornais do mundo inteiro, inclusive a Folha, o estudo que mostrou, com base em extenso levantamento bibliográfico, que o número de artigos científicos prevendo uma era glacial nos anos 70 era muito menor do que o número de artigos científicos prevendo aquecimento. Essa proporção só era diferente nas páginas dos jornais.
O clima depende de fatores físicos, químicos, geológicos, biológicos, oceânicos, glaciais, astronômicos e astrofísicos, mas eles garantem que o CO2 é o responsável e citam sempre dois estudos do século 19, de Fourier e Arrhenius, ambos sem validade científica atual e com muitos erros, mas por eles reverenciados com enternecido fervor religioso. O artigo de Fourier é uma exposição literária, sem uma só equação e com muitos erros conceituais, apesar de não ter sido assim àquela época. Arrhenius errou ao calcular a temperatura da Terra se não existisse o CO2 no ar e ao atribuir as eras glaciais à diminuição desse gás; prático, disse que a sua teoria só poderia ser contestada se provassem que a retirada do CO2 não esfriaria a Terra e assim deu o mote para o "sumo sacerdote do aquecimento", o norte-americano Al Gore: "A ciência está feita".
Os dois cometeram vários erros e seus papers foram rejeitados durante décadas. Coitados. Eles não dispunham das ferramentas necessárias para entender o clima, mas foram os primeiros a colocar o guizo carbônico no pescoço do gato climático. Arrhenius estava certo pelos motivos errados: sua previsão para um mundo com o dobro de dióxido de carbono era de um aquecimento de 5 graus, mais que os 3 graus previstos hoje, mas na mesma magnitude.
Quem quiser que prove o contrário. O IPCC desconhece o que fez o físico meteorologista C.T.R. Wilson, inventor da "cloud chamber" -câmara de nuvens-, com a qual pretendia reproduzi-las em laboratório; ganhou o Nobel de Física de 1927 porque a câmara possibilitou comprovar muitas previsões das teorias da relatividade e quanta. Wilson é o precursor dos importantes estudos sobre o clima no Instituto de Pesquisas Espaciais da Dinamarca e no Cern.
Parabéns para ele. Mas o que isso tem a ver com este texto?
Às mudanças drásticas no clima ocorridas nos últimos 10 mil anos são atribuídos os colapsos das civilizações acadiana (Mesopotâmia, 2200 a.C); maia (Mesoamérica, há 1.200 anos); moche (Peru, há 1.500 anos); e tiwanaku (Bolívia/Peru, há mil anos).
Tudo isso ocorreu sem um grama do CO2 "antropogênico" no ar. Nem a devastação de cerca de 400 mil quilômetros quadrados nas pradarias dos EUA e do Canadá ("dust bowl", 1930 a 1936) é fruto desse gás, pois foi causada pela seca e o mau uso da terra.
Prova de como é importante não brincar com o clima, porque qualquer mudança brusca nele pode ser fatal.
Aos cultores dessa ciência climática vudu, sem teoria nem comprovação experimental, restou fazer ameaças, frases feitas e reuniões estridentes no Rio, em Bali e em Poznam para salvarem a Terra. E ungir mais um sumo pontífice, o barão Stern of Brentwood, que, na Oxonia Lectures de 2006, fez a cândida confissão: "Em agosto ou julho do ano passado, eu tinha uma ideia sobre o efeito estufa, mas não estava seguro". Meses depois, sacramentado como sábio pelo governo inglês para elaborar o relatório Stern, um cartapácio de 700 páginas, quer fortalecer o ecoterrorismo.
Stern fez o que Azevedo deveria ter feito: procurar se informar sobre o assunto antes de falar merda.
O barão veio a esta Terra dos papagaios e causou enorme sensação, apesar da sua sabença oca.
Doh.
JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 76, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).
"EM JANEIRO de 2008 nevou em Bagdá e isso não ocorreu em todo o século 20; no mesmo ano e no atual, nevou na Síria, na Turquia, na Grécia e em grande parte da Ásia. Na Europa e nos EUA o inverno é inclemente e nevou nos desertos de Mojave e de Las Vegas.
Qualquer pessoa que já tenha visto um filme do Theo Angelopoulos sabe que neve na Turquia e na Grécia é mais do que usual. Sobre Las Vegas, bem, os espanhóis que batizaram a região de NEVADA não devem tê-lo feito à toa.
Nada disso foi previsto pelos xamãs e videntes do IPCC, que, há 20 anos, fazem "projeções climáticas" para 20 ou mais anos depois.
Azevedo confunde tempo e clima. Como ninguém que tenha feito curso superior e ainda mais que diz entender do assunto pode confundir esses dois conceitos tão elementares por ignorância, suponho que tenha sido por má fé, para induzir o leitor leigo a erro.
Mas o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) previu as enchentes de Santa Catarina com acerto e uma semana de antecedência. A frase é de Mark Twain: "Clima é o que esperamos; tempo, é o que recebemos".
Assim como os serviços meteorológicos dos EUA, da Turquia e da Grécia previram as "anomalias" deste ano com antecedência. Porque é para isso que serviços meteorológicos servem: para prever o TEMPO.
Há hoje apenas uma prova do "aquecimento antropogênico": os computadores do IPCC e adeptos.
www.ipcc.ch
É certo que a quantidade de CO2 no ar cresce muito tempo depois de a temperatura aumentar. Satélites e sondas meteorológicos também comprovam que, nos últimos 13 anos, a temperatura ficou estável nos dez primeiros e caiu nos três últimos.
Essa suposta discrepância já foi solucionada há muito tempo com o auxílio de satélites e outros instrumentos. Azevedo não consulta a literatura científica produzida depois dos anos 1960. Nos últimos 13 anos tivemos 11 dos anos mais quentes da história. A queda nos últimos três ainda mantém a temperatura acima da média dos últimos 50 anos. Azevedo aqui comete, mais uma vez de propósito, o erro simples de viés de seleção, ou seja, apresenta só uma parte dos dados e tira conclusões em cima delas.
O clima na Terra muda há bilhões de anos e a temperatura sobe há uns 20 mil, desde o fim da Era Glacial, quando uma enorme parte do hemisfério Norte esteve sob uma camada de gelo com mais de um quilômetro de espessura e o nível dos oceanos era uns 150 metros inferior ao atual.
Fato.
Se não existe a teoria do clima, que modelos climáticos os videntes do IPCC processam nos seus supercomputadores?
Como assim "não existe a teoria do clima"?? Azevedo aqui usa um truque retórico favorito de seu colega da turma dos simpatizantes da repressão Paulo Salim Maluf: lançar uma premissa falsa para depois desmontá-la com uma argumentação impressionante.
Um estudo de Koutsoyianis e outros autores, de 2008, confirma que "o desempenho dos modelos é fraco; em escala de 30 anos (...) as projeções não são confiáveis e o argumento comum de que o seu desempenho é melhor em larga escala não tem fundamento".
Mais uma vez, ele seleciona evidências. Fala de UM estudo e esquece as outras centenas que apontam a conclusão oposta.
Em 2007, K.Trenberth, meteorologista do IPCC, disse que "não há previsões climáticas feitas pelo IPCC. E nunca houve". Mas os xamãs dizem que há "consenso científico" sobre a influência do CO2 no clima, o que fez R. Lindsay, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA), dizer: "Chegaram ao consenso antes de a pesquisa ter começado".
Vale a pena perder um momento aqui para dizer quem é Kevin Trenberth: um dos maiores climatologistas do mundo, da Universidade do Colorado, Trenberth é o autor de um estudo interessantíssimo argumentando que a temporada de furacões de 2005 é atribuível à temperatura média mais alta do Atlântico, produto por sua vez do aquecimento global. Não exatamente alguém que se poderia chamar de cético do clima. Sem entrar no mérito de que a frase citada por Azevedo pode ter sido tirada de contexto (e foi), ela está rigorosamente certa: o IPCC não faz previsões, e sim aponta cenários mostrando o que acontecerá com o clima para cada trajetória de emissões. Uma diferença sutil, mas importante.
O que significam então os fatos mencionados no primeiro parágrafo? Só os pobres em espírito sabem.
Elementar, meu caro Azevedo: os fatos citados no primeiro parágrafo significam que o clima da Terra varia muito. Isso nada tem a ver com riqueza ou pobreza de espírito.
É ainda impossível provar se a Terra aquece ou esfria ou se começou a nova Era Glacial anunciada nos anos 1970 por atuais videntes do IPCC.
Já foi mais do que noticiado por jornais do mundo inteiro, inclusive a Folha, o estudo que mostrou, com base em extenso levantamento bibliográfico, que o número de artigos científicos prevendo uma era glacial nos anos 70 era muito menor do que o número de artigos científicos prevendo aquecimento. Essa proporção só era diferente nas páginas dos jornais.
O clima depende de fatores físicos, químicos, geológicos, biológicos, oceânicos, glaciais, astronômicos e astrofísicos, mas eles garantem que o CO2 é o responsável e citam sempre dois estudos do século 19, de Fourier e Arrhenius, ambos sem validade científica atual e com muitos erros, mas por eles reverenciados com enternecido fervor religioso. O artigo de Fourier é uma exposição literária, sem uma só equação e com muitos erros conceituais, apesar de não ter sido assim àquela época. Arrhenius errou ao calcular a temperatura da Terra se não existisse o CO2 no ar e ao atribuir as eras glaciais à diminuição desse gás; prático, disse que a sua teoria só poderia ser contestada se provassem que a retirada do CO2 não esfriaria a Terra e assim deu o mote para o "sumo sacerdote do aquecimento", o norte-americano Al Gore: "A ciência está feita".
Os dois cometeram vários erros e seus papers foram rejeitados durante décadas. Coitados. Eles não dispunham das ferramentas necessárias para entender o clima, mas foram os primeiros a colocar o guizo carbônico no pescoço do gato climático. Arrhenius estava certo pelos motivos errados: sua previsão para um mundo com o dobro de dióxido de carbono era de um aquecimento de 5 graus, mais que os 3 graus previstos hoje, mas na mesma magnitude.
Quem quiser que prove o contrário. O IPCC desconhece o que fez o físico meteorologista C.T.R. Wilson, inventor da "cloud chamber" -câmara de nuvens-, com a qual pretendia reproduzi-las em laboratório; ganhou o Nobel de Física de 1927 porque a câmara possibilitou comprovar muitas previsões das teorias da relatividade e quanta. Wilson é o precursor dos importantes estudos sobre o clima no Instituto de Pesquisas Espaciais da Dinamarca e no Cern.
Parabéns para ele. Mas o que isso tem a ver com este texto?
Às mudanças drásticas no clima ocorridas nos últimos 10 mil anos são atribuídos os colapsos das civilizações acadiana (Mesopotâmia, 2200 a.C); maia (Mesoamérica, há 1.200 anos); moche (Peru, há 1.500 anos); e tiwanaku (Bolívia/Peru, há mil anos).
Tudo isso ocorreu sem um grama do CO2 "antropogênico" no ar. Nem a devastação de cerca de 400 mil quilômetros quadrados nas pradarias dos EUA e do Canadá ("dust bowl", 1930 a 1936) é fruto desse gás, pois foi causada pela seca e o mau uso da terra.
Prova de como é importante não brincar com o clima, porque qualquer mudança brusca nele pode ser fatal.
Aos cultores dessa ciência climática vudu, sem teoria nem comprovação experimental, restou fazer ameaças, frases feitas e reuniões estridentes no Rio, em Bali e em Poznam para salvarem a Terra. E ungir mais um sumo pontífice, o barão Stern of Brentwood, que, na Oxonia Lectures de 2006, fez a cândida confissão: "Em agosto ou julho do ano passado, eu tinha uma ideia sobre o efeito estufa, mas não estava seguro". Meses depois, sacramentado como sábio pelo governo inglês para elaborar o relatório Stern, um cartapácio de 700 páginas, quer fortalecer o ecoterrorismo.
Stern fez o que Azevedo deveria ter feito: procurar se informar sobre o assunto antes de falar merda.
O barão veio a esta Terra dos papagaios e causou enorme sensação, apesar da sua sabença oca.
Doh.
JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 76, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).