Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quarta-feira, abril 30, 2008

Como dizia Caymmi...

Baiano burro nasce médico.

quinta-feira, abril 24, 2008

Green (no) go

LEIO HOJE NO ESTADÃO que o governo prepara um projeto para enquadrar as ONGs que atuam na Amazônia. Para estrangeiro entrar na nossa floresta, a trabalho, só com autorização da Defesa e da Justiça.

Acho a proposta do caralho. Tem uma porrada de picareta barbarizando na Amazônia em nome do "meio ambiente", ou, pior ainda, em nome de "Deus". Esses calhordas vão do Summer Institute of Linguistics e a New Tribes, organizações missionárias que querem levar a palavra de Cristo a sociedades totêmicas e ágrafas da Idade da Pedra, até o tal Eliasch, que anda comprando ou querendo comprar terras na Amazônia para fins de preservação, com a aparente anuência de David Miliband, chanceler do Reino Unido, que disse e depois negou ter dito que a única solução para a Amazônia é comprá-la dos brasileiros - embora isso pudesse "levantar algumas questões de soberania". Toda essa patota se escuda em ONGs.

Adianto, no entanto, que o plano do Curinga não vai funcionar. Primeiro, porque pouca gente mal-intencionada entra aqui com visto de trabalho. Biopiratas potenciais, muito menos (aliás, esse mito da biopirataria já foi desmontado em prosa e verso mais de uma vez por Marcelo Leite) Segundo, porque há questões pertinentes a serem feitas:

1 - Várias dessas ONGs são, a rigor, brasileiras e não "estrangeiras". O Greenpeace não funciona como uma empresa multinacional que remete lucros ao exterior; ao contrário, a sua campanha Amazônia é brasileira, tocada por brasileiros.

2 - Sim, ONGs recebem em "libras, dólares, euros e outras moedas fortes", como diz o Estadão. Mas, ops, o Ministério do Meio Ambiente também. E muito. O Arpa, programa para financiar a criação de unidades de conservação na Amazônia, tem euros do WWF e dólares do Banco Mundial. Fora o PPG-7, que tem 300 milhões da Alemanha. E aí? Os consultores internacionais a serviço de Marina Silva terão de pedir autorização ao governo para trabalhar para o governo?

3 - O Estadão fala também que a Amazônia é uma "exuberante reserva de carbono" e que há "estrangeiros de olho nesse tesouro". Pergunto: como é que alguém iria se apropriar do carbono da Amazônia? Um Nobel para quem desenvolver um método. De repente o Estadão e os militares acham que carbono é que nem tório ou aranhas, que você põe numa caixa e despacha para o exterior.

Sei lá. De repente eles são mais espertos do que eu e já pensaram em tudo. Mas isso me soa uma costura de última hora que vazou para a imprensa para aplacar essa nova onda nacionalista gerada em torno de Raposa/Serra do Sol e seus arrozeiros e generais delirantes.

quarta-feira, abril 23, 2008

Abaloooou!!

HABLA SÉRIO: eu moro a uma quadra de um corredor de ônibus. Haja escala Richter para me fazer perceber qualquer outro tipo de tremor.

Mas relato que o terremoto paulista afetou minha residência. Ontem à tarde, uma estatueta de cerâmica que eu tenho estava com a ponta do pé pra fora do nicho. Hoje de manhã ela estava totalmente dentro do nicho.

Portanto, o terremoto teve um impacto POSITIVO.

Tipo que nem o aquecimento global.

"Psychologically true"

ESTÁ LÁ NO site G1: "Moisés pode não ter existido, sugere arqueologia".

Tem alguém recebendo DINHEIRO para pesquisar ISSO?

Vai dizer também que descobriram que não existe nenhuma evidência arqueológica de que Deus tenha pessoalmente cinzelado um conjunto de leis em blocos de pedra?

Como vocês esperam que eu mantenha minha FÉ desse jeito?

Vou pedir recall da minha primeira comunhão. E processar a Igreja por danos espirituais.

quarta-feira, abril 16, 2008

Dois pesos

O NEW YORK TIMES está comemorando, muito justamente, a libertação do jornalista Barry Bearak, preso por duas semanas pela ditadura de Robert Mugabe. Seus crimes: exercer sua profissão sem autorização do governo (é sério) e violar as leis de imprensa locais (aparentemente, qualquer atividade jornalística no Zimbábue é uma violação às leis de imprensa locais).

Turns out que o repórter do Times realmente só foi enjaulado por uma semana. Saiu depois sob fiança, mas ficou retido no país, sem passaporte. Enfim, coisa de ditaduras tribais africanas.

Mas hoje a agência Associated Press também comemora a libertação de um jornalista, o fotógrafo Bilal Hussein. Como Barry Bearak, Hussein ganhou um Pulitzer. Foi preso não por duas semanas, mas por DOIS ANOS... pelo Exército dos EUA. Seu crime? Ser iraquiano. Supostamente colaborando com a "insurgência" islâmica no país.

Dois anos de cana no Iraque, sem julgamento, sem fiança, sem condicional e sem uma acusação formal.

Coisa de ditadura?

quinta-feira, abril 10, 2008

O poema trágico do Uiramutã


EU TINHA virado fã do ministro Carlos Ayres Britto depois de seu antológico voto a favor das células-tronco embrionárias naquele julgamwnto que não houve no STF, mês passado. Mas o magistrado acaba de dar prova do que se pode esperar das proverbiais cabeças de juízes e bundas de nenê ao conceder liminar pela retirada da Polícia Federal da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, em Roraima.
A PF estava lá cumprindo seu papel de tirar da reserva meia-dúzia de "produtores rurais" (leia-se GRILEIROS) que aproveitaram o vácuo jurídico deixado pela não-homologação da área de Raposa (demarcada há mais de uma década como terra contínua) durante toda a era FHC para plantar arroz no local. Até minha vovozinha sabia que, cedo ou tarde, alguém poderia homologar a área e que as pessoas que tivessem por sua conta e risco ocupado o local teriam de sair. (Um parêntese aqui: a homologação foi negada no fim dos anos 1990 por ninguém menos que o então ministro tucano da Justiça, Nelson Jobim, que hoje parece ter um emprego também no governo Lula.)
Não foi esse, aparentemente, o raciocínio dos arrozeiros, liderados pelo (prefeito? ex-prefeito?) de Pacaraima Paulo César Quartiero. Apoiados pela "elite branca" de Roraima, que tem aversão a índio e que tem produzido luminares de projeção nacional do quilate de Romero Jucá, eles foram ficando, confiantes na velha política amazônica do fato consumado. Títulos de terra? Nem toque no assunto.
O raciocínio torto do poeta Ayres Britto, segundo leio no Estadão de hoje, foi que a retirada dos não-índios (de novo, um eufemismo para "grileiros") afetaria 6% da economia do Estado (ninguém diz que mais de 80% do PIB de Roraima vem do FPE, ou seja, do meu, do seu, do nosso), mas que eles ocupam "menos de 1%" da área da reserva. Ora, entre 6% e 1% há uma guerra civil pipocando, então "deixa os home trabalhar". Certo?
Só pode descrever as coisas nessa aritmética tão simplória quem nunca viu um pé de arroz na vida. Ou quem acha normal um sistema de produção agrícola de produtividade baixa, calçado em dois tipos de subsídio que só são "externalidades" econômicas no modelo medieval de produção brasileiro, o mesmo que acabou com a Mata Atlântica e vem acabando com o cerrado: preço da terra (de graça) e micronutrientes do solo (idem). Para não arcar com esses custos, os agricultores brasileiros desde 1530 avançam em cima da vegetação nativa até esgotarem o solo, então avançam de novo, e de novo, e de novo.
É certo que há mais campos naturais e cerrados em Raposa do que floresta amazônica propriamente dita. O valor do carbono fixado por essa vegetação nativa é muito menor do que o que se consegue no Amazonas, que já paga produtores para manter a floresta em pé só pelo carbono. Mas e todo o resto? Se Ayres Britto fizesse ESSA conta, descobriria que os "6%" da economia de Roraima na verdade podem ser um DÉBITO, não um crédito. Em seu tempo como secretária de Coordenação da Amazônia do governo FFHH, Mary Alegretti chegou a sugerir que o custo de combater o megaincêndio de Roraima em 2001 (ou 2002?) foi maior do que todo o PIB agrícola do Estado. E estamos falando de quem produz dentro e fora de Raposa. Que parte da palavra "prejuízo" os governos não entendem?
Por fim, mais uma vez, há a outra cifra mágica de que 50% de Roraima é área indígena? E isso quer dizer o quê? Que FALTA ESPAÇO para plantar ou para qualquer outra atividade econômica nos mais de 80.000 km2 que sobram para 300 mil habitantes? Don't think so! Pergunte a um produtor rural europeu o que ele faria com 20.000 km2 livres para plantar (se considerarmos a reserva legal de 80% determinada na Amazônia). A Bélgica INTEIRA tem menos que o dobro disso.
Mas o custo de oportunidade amazônico é imbatível. Eu, você e nossos filhos e netos estamos subsidiando Paulo César Quartiero e sua gangue. Warren Dean deve estar bufando no túmulo.

quarta-feira, abril 09, 2008

Ain't nothin' sacred?

- Drug dealers looking for extra profits apparently added lead flakes to packets of marijuana, inflating their value while causing dozens of cases of serious poisoning, doctors in Germany reported on Wednesday.
The lead made up, on average, 10 percent of the material in the marijuana packets, boosting profits by about $1,500 (1,000 euros) per kilogram (2.2 pounds), Franzika Busse of University Hospital Leipzig reported.
‘One package contained obvious lead particles; this strongly indicated that the lead was deliberately added to the package rather than inadvertently incorporated into the marijuana plants from contaminated soil,‘ the researchers wrote in a letter to the New England Journal of Medicine.
The problem was discovered last year when the first of 29 patients, aged 16 to 33, started showing up in four Leipzig hospitals with abdominal cramps, fatigue, nausea and varying degrees of anemia. One was ill enough to be suffering from hallucinations.
It took eight weeks to uncover a common pattern: all were young, smoked, had body piercings and were either students or unemployed. All regularly used marijuana.
Three patients brought in their stashes. All samples tested positive for lead contamination, with one having lead flakes that were obvious under a microscope.
After two more weeks, an anonymous screening program for marijuana users uncovered 95 other people who needed treatment.
Busse’s colleague, Dr. Michael Stumvoll, said in an e-mail that about 200 people have now been identified. The screening is continuing, he said, although it does not appear that the practice is continuing among dealers.
‘The medical community, including pediatricians, should consider adulterated marijuana as a potential source of lead intoxication,‘ the German team wrote.

O (real) segredo de Brokeback Mountain

NÃO, NADA A VER com caubóis gays. Mas sim com a poeira que eles respiram nas plagas do oeste americano. Uma reportagem de Fred Pearce na New Scientist (acesso pago) sugere que, longe de ser uma característica natural da paisagem, a poeira tem origem antrópica. Ou melhor: bovina. As vacas levadas pelos colonos para a região, em manadas jamais vistas desde o fim do Pleistoceno, literalmente pisotearam o Oeste até ele virar pó.

Mais uma na conta da pecuária. Te cuida, São Félix do Xingu.