Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

quarta-feira, maio 31, 2006

Pinóquio

A AUSTRÁLIA, um dos dois países industrializados que se recusaram a ratificar o Protocolo de Kyoto, está dando de dedo nas nações do Pacífico Sul, veja só, por uma razão ambiental.

Seu ministro do Ambiente disse que essas nações arriscam atrair "a ira da comunidade internacional" se continuarem caçando baleias.

domingo, maio 28, 2006

12 notas sobre O Código Da Vinci

* O roteiro é um lixo completo.

* Os diálogos são forçados. É constrangedor ver Audrey Tatou (uma boa atriz) dialogando com Tom Hanks (um bom ator) e achar que se está vendo a Babi conversando com o Cigano Igor.

* Paul Bettany e Ian McKellen se salvam, mas deixam o filme naufragar.

* Os caras tiveram o dom de transformar Paris numa cidade qualquer.

* A cena do viciado não tem nada a ver.

* É significativamente pior que o livro.

* Ou seja, um desastre.

* Não tem nada de revolucionário, nem subversivo.

* Na verdade, é bem reaça.

* Na verdade, na verdade, é um filme cristão. Parece ter sido escrito pelos advogados da Sony, para não desagradar ao pessoal do Bible Belt.

* Gaste seu dinheiro com X-Men.

* Como eu DEVERIA ter feito.

quarta-feira, maio 24, 2006

Some hero

O ESTADO DE S.PAULO informa hoje que Marcos Cesar Pontes vestiu o pijamão e virou paisano. Cansou de se fingir de patriota.

terça-feira, maio 23, 2006

Vale-desmate II

QUANTO VOCÊ PAGA todo mês para financiar o desmatamento da Amazônia?
"Ora, Paranthropus, que pergunta prepóstera!", você dirá. "Eu sou conservacionista e quero ver a Amazônia preservada! Jamais dei um centavo para financiar a devastação!"

Sua revolta é justa, leitor, mas furada. Só entre 2000 e 2005 você, eu, nós todos pagamos R$ 9,1 bilhões para socorrer a "competitiva" agricultura brasileira. Boa parte desse tutu vai ser usado em rolagem de dívida de sojeiros e ganadeiros que atuam em regiões de fronteira agrícola, expandindo-a. É em parte graças a esses subsídios escondidos que Mato Grosso amarga o título de região do planeta que mais queima, segundo pesquisa da Nasa divulgada ontem pela Folha.

O cálculo do tamanho do pacote agrícola escondido foi feito por José Garcia Gasques, do Ipea, e revelado em matéria de Mauro Zanatta no Valoe Econômico de hoje. Os números são de arrepiar até os mais crentes na pujança econômica do nosso "agronegócio" (nome glorificado para "monocultura"). No período examinado por Gasques, o subsídio direto foi deR$ 26,7 bilhões. Destes, R$ 10,7 foram usados em compras diretas e estocagem. Curiosamente, a despesa com a rolagem de dívidas agrícolas no período (estou falando daqueles R$ 9,1 bilhões iniciais) foi maior em 2003, ano do "boom da soja" - o cacófato é proposital.

É por isso que eu amo a direita

Live for yourself
there's no one else
More worth living for
Begging hands and bleeding hearts
will only cry out for more
Anthem of the heart
and anthem of the mind
A funeral dirge for eyes gone blind
We marvel after those who sought
Wonders in the world
wonders of the world
they wrought
(Agora, como o filho da puta consegue cantar isso no contratempo pra mim é um mistério.)

quinta-feira, maio 18, 2006

Einstein

JOÃO GABRIEL, 3, contou até dez pela primeira vez hoje.

terça-feira, maio 16, 2006

Offense to injury

DE UM COLEGA CARIOCA:

"Não sei como é que vocês conseguem viver nessa cidade tão violenta".

sábado, maio 13, 2006

Vale-desmate

XÔ VER se eu entendi: quando o dólar estava 3 pra 1 e o preço da soja no espaço, a galera investiu pesado, comprou trator, meteu o correntão em meio Mato Grosso e encheu a burra de dinheiro. Agora, com o dólar a 2 pra 1, o moderno e ultra-"competitivo" agronegócio brasileiro fecha estradas, chora e mama 1 bilhão do governo para comercializar a safra.

Valeu, Lulinha. Você é mesmo uma mãe.

Eu definitivamente estou na profissão errada.

sexta-feira, maio 12, 2006

Be my guest, tayta Morales

AQUELE CHOLO MASCADOR DE COCA IGNORANTE do Evo Morales disse ontem que a Petrobras é "contrabandista" e que o Brasil tem desvios históricos de caráter, amplamente demonstrados quando o país abocanhou o Acre em troca "de un caballo".

É muita ignorância para um chefe de Estado. Inadmissível. Todo mundo sabe que o Acre foi comprado por 2 milhões de libras esterlinas e uma super-ferrovia, a Madeira-Marmoré, que deveria ligar a Bolívia aos portos de Rondônia mas que, até onde consta, nunca foi completada. Custou caro aquele pedaço de nada que só serve para aumentar a distância entre Porto Velho e Iquitos.

Um cavalo! Que biltre! Teria sido, aliás, o preço justo. Mais do que justo. Pensando bem, o Itamaraty deveria honrar a memória de Paranhos e dizer claramente a Evo Morales: quer nacionalizar o gás, nacionalize. Quer nacionalizar as terras, nacionalize. Mas com uma condição: por favor, leve o Acre junto. E não ouse pensar em devolver.

Absurdo? Sim, pode soar absurdo para a esmagadora maioria da população brasileira, que não sabe nem onde fica o Acre. Eu sei BEM onde fica o Acre: morei lá. O Acre fica a quatro horas de Varig de Brasília. Sem vôo direto. Para chegar lá, o cabra precisa passar ou por Várzea Grande (o nome diz tudo) ou por Porto Velho. Animou?

Além de longe, o Acre é crime de estética cartográfica. Aquele apêndice esquisito, que mais parece uma mariposa grudada no Amazonas, sempre foi meu pesadelo nas aulas de desenho de mapas no primário, quando ele ainda se chamava Território Federal do Acre (E pra decorar as porras dos nomes dos territórios?). Já tentou desenhar o Acre num mapa do Brasil? É impossível fazê-lo parecer elegante! Ele não encaixa, não pertence.

Esse crime se torna mais evidente quando você tenta viajar de um município para o outro. Só há uma forma de fazê-lo: voando. Isso porque quase todos os 12 municípios do Estado estão dispostos ao longo da divisa com o Amazonas. A BR-364 só é transitável três meses por ano. E Deus, que pode ser brasileiro mas que deveria estar considerando se naturalizar português quando fez o Acre, xi feix o favoire de dispor todos os rios navegáveis do lugar em linhas paralelas. Antigamente, quando faltava gás em Cruzeiro do Sul, o combustível tinha de ir de balsa de Rio Branco até Lábrea, no rio Solimões (vá olhando o mapa), e subir todo o Juruá. Vinte dias de viagem.

Perfeitamente inviável.

Tão inviável que até hoje o Estado vive de FPE. Tão inviável que nem desmatar eles conseguem, porque não tem para onde escoar a produção. E os solos, obrigado por perguntar, são areia pura. O Acre tem uma geologia de merda. 100% do Estado formado de sedimentos moles. Não tem uma pedra. Dá para imaginar o que é crescer sem ver uma pedra na sua vida? Acho que as línguas indígenas acrenas não têm uma palavra para "pedra".

O Acre tem a floresta mais pobre e os rios mais chochos da Amazônia. Diferentemente do Pará, o Acre não tem cultura própria. Nem gastronomia própria. Foi colonizado por cearenses que passavam o dia inteiro no mato tirando leite de pau e por prostitutas francesas. Deu no que deu.

E só deu em tragédia. Um evento marcante da história do Acre? Um assassinato. Acrenos ilustres? O Carlão, da seleção de vôlei (tem até uma placa em homenagem a ele na praça em frente à prefeitura). O Jarbas Passarinho, aquele que mandou às favas os escrúpulos da consciência. O Tião Viana, aquele que tentou esconder o Mensalão. O HILDEBRANDO PASCOAL. Manja, o homem da motosserra?

Habla sério.

segunda-feira, maio 08, 2006

Vamos invadir a Bolívia!

PELO MENOS ESSE é o tom da mídia nacional nos episódios Morales X Brasil X Eike Batista. Este último, só porque é corno, resolveu acabar com o habitat dos cervos do Pantanal e botar Mato Grosso do Sul abaixo para alimentar sua siderúrgica, defenestrada de solo boliviano. Algumas vozes sensatas se fazem ouvir nesse front, notoriamente a de Luís Nassif, citado pelo Jornal da Ciência.

terça-feira, maio 02, 2006

Os veios fechados da América Latina

QUEM DISSE que o sonho acabou? Como este blogueiro prenunciou corretamente meses atrás, o fato de Evo Morales ter colocado na cabeça um gorro tiwanakota de quatro pontas no dia da sua posse era um fato de enorme carga simbólica, que antecipava grandes coisas. Minha aposta era a reconquista do norte do Chile. Mas o aimará presidente fez melhor: nacionalizou os hidrocarbonetos, chutou o saco de meia dúzia de "parceiros comerciais" (leia-se sanguessugas de recursos naturais), inclusive e principalmente o do Brasil, e deu ao país mais pobre do continente um pouquinho de esperança. Como disse Clóvis Rossi hoje na Folha, foi o primeiro ato genuinamente de esquerda no planeta desde a queda do Muro de Berlim.

Viva Evo.

Há séculos o capitalismo tem preparado a Bolívia para ser palco de eventos interessantes (note que eu ainda não usei a palavra com "r"), todos eles relacionados com a geologia espetacular do seu território. Primeiro foi o metalismo espanhol, seguido no século 19 por Simón Patiño e a criminosa exploração do estanho de Potosí. No século 20, foi a vez do petróleo e do gás. No 21, a tentativa de venda de outro recurso geológico vital -- a água -- para uma companhia francesa precipitou a explosão da bomba social em Cochabamba. O lumpesinato boliviano ganhou a parada e gostou: do lado de cima da cordilheira, em El Alto, bloqueios de estradas e protestos populares acabaram derrubando o presidente Goñi Sánchez de Lozada.

Pra ninguém achar que a indiada andou servindo de massa de manobra, diga-se logo que a esquerda boliviana é rachada em pelo menos três setores: o colaboracionista, mais ou menos o que o PT virou no Brasil, o populista-reformista, do qual Morales é o maior expoente, e o terrorista, de Filipe Quispe, que quer refundar o Estado indígena e mandar todo mundo à puta que pariu. Os eventos que culminaram com a eleição do índio Evo e dos intelectuais brancos que lhe dão sustentação são, antes de mais nada, um sinal de esgotamento de uma sociedade que é paupérrima mas ainda não entrou em colapso, como o Haiti e os países da África negra. Antes de se esfacelar numa guerra civil, a Bolívia resolveu dar uma chacoalhada nas coisas.

Claro, tem um componente nada desprezível de showzinho -- ao ver seu ibope subir com o discurso populista, Morales resolveu radicalizar. Mas é besta achar que um presidente (que pode ser bronco, mas que tem muita gente que estudou na Sorbonne por trás dele) arriscaria como Morales arriscou só por showzinho interno.

Agora, uma coisa é peitar a Petrobras. A outra é saber, objetivamente, o que fazer depois disso. Se as múltis saírem todas de uma vez, os bolivianos vão viver do quê? Eles não sabem explorar petróleo e gás natural sozinhos. Claro, esse é o argumento que sempre justificou o saque do Terceiro Mundo, a chantagem da ignorância que todos os séculos de pilhagem não quiseram e/ou não puderam reverter. Evo aposta na interdependência; seu filé e grande demais para as petroleiras largarem así no más.

Veremos quem tem razão. Agora, se a moda pega...