Ideias antigas

Fósseis, árvores, minorias, filhos e outras coisas fora de moda

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Apenas uma relíquia do Plioceno...

segunda-feira, agosto 29, 2005

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NESTE DOMINGO levei meus dois filhos para conhecer o Museu de História Natural de Taubaté. Sim, Taubaté, terra da hoje arqueológica Velhinha de Taubaté, da Emília e do Visconde. "Que diabos faz um museu de história natural em Taubaté?", perguntará você. E eu responderei: Taubaté, meu caro Watson, possui extensos depósitos Oligo-Miocênicos, com fósseis de fororrascídeos. Sacô?

Fororrascídeos são uns passarinhos gigantes. Bem do mal. Ou "uma coisa muito pré-histórica", como diria uma que o outro quer pegar. Se você esticar uma seriema (que, aliás, é um fororrascídeo, ou fororracóide, como prefere o Petutinho) até uns 2 metros de altura e 200 quilos e lhe der um bico maciço e ultra-afiado e uma cara de má, terá uma idéia aproximada do que eram as cotovias que gorjeavam em Taubaté naqueles tempos. Sorte que o Rabicó não era vivo.

But I digress. O que eu quero dizer é que o museu de Taubaté, obra do esforço hercúleo do apropriadamente batizado Herculano Alvarenga (hm, essa doeu. OK.), é um lugar muito legal. Quase tudo lá são réplicas, mas a exposição tem uma seqüência cronológica linda, que vai das primeiras bactérias fósseis até o presente. No meio do caminho, trilobitas, cinodontes, dinossauros, pterossauros, preguiças gigantes... e os tais fororrascídeos. A mostra inclui um alossauro em tamanho natural, um estauricossauro, um caudiptérix e um arqueoptérix, reconstituído pelo próprio Alvarenga (talvez o maior especialista do país em aves fósseis). Os displays são ótimos e elegantes, apesar do despojo. E, se bobear, os visitantes ganham uma visita guiada pelo próprio Herculano, que vive por ali nos findis.

O problema é que o lugar quase não tem os tais visitantes. Quando eu cheguei lá, achei que estivesse fechado. No começo da tarde de domingo, eu e meus filhos fomos os únicos turistas no local. Na nossa saída é que apareceu uma família. E só. À parte isso, o museu não tem patrocínio. Herculano reclamava que a Petrobras deu R$ 3 milhões para o Sítio do Picapau Amarelo. "Com R$ 1 milhão eu fazia a festa aqui", diz o médico-paleontólogo.

No meio da mediocridade que impera na divulgação de ciência brasileira, vendo a sujeirada que foi a instalação da Rede Brasileira de Pesquisas em Paleontologia e vendo o arraso que os argentinos fazem com seus fósseis (em qualquer biboca tem um museu de história natural), é realmente uma pena que o museu de Taubaté não tenha visitantes nem patrocínio. O lugar é perto de São Paulo e do Rio. E se presta a um trabalho maravilhoso de educação científica, pra quem se queixa da falta de opções para isso no Brasil. Tendo trabalhado como guia no museu de história natural mais charmoso dos EUA, o de Harvard, eu digo: visite. Vale a pena.

E não, o Herculano não me pagou nada pela propaganda.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Pompa & Circunstância

MARINA SILVA OFICIALMENTE sai de seu inferno astral amanhã. Sua gestão se prepara para divulgar uma queda nos números do desmatamento na Amazônia. Queda grande, ao que parece. Uma excelente ocasião para um fato positivo que atenue a lama que inunda a Praça dos Três Poderes. Depois de dizer que "o Deter não serve pra gerar polígono de desmatamento" e de ter pago o mico de ver o Imazon produzir os tais polígonos usando a tecnologia do Inpe melhor que o próprio Inpe, João Paulo Capobianco capitulou e resolveu botar seu sistema pra funcionar.

A questão, agora, é segurar a taxa, seja ela qual for. Mas isso é algo a pensar depois, né? Agora silenciem, e ouçam os ruflar dos tambores.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Mão na cabeça e documento

O SENADOR Morzaildo Cavalcanti, do PTB (é, PTB) de Roraima, assumiu a subcomissão especial do Senado para a Amazônia já botando o pau na mesa: disse que pode chamar o chefão da OMC, Pascal Lamy, a prestar esclarecimentos sobre suas declarações recentes de que a floresta deve ser internacionalmente gerida.

Agora vai.

domingo, agosto 21, 2005

Efeito orloff

TODOS OS GRANDES problemas ambientais que assombram a humanidade -- a destruição dos habitats naturais, a perda acelerada da biodiversidade, a crise de energia, o aquecimento global, a superpopulação, o esgotamento dos solos, a escassez de água doce -- serão resolvidos ainda durante a vida desta geração ou da próxima. A princípio, a aposta é excessivamente otimista. Ainda mais vinda de alguém como o biogeógrafo americano Jared Diamond, que conhece a história do Homo sapiens o suficiente para saber que nós não somos uma espécie lá muito digna de confiança.

Mas o novo livro de Diamond, Colapso _ Como as Sociedades Escolhem Falhar ou Prosperar, que finalmente aporta nas livrarias brasileiras no fim deste mês, está longe de ser um libelo cor-de-rosa. A questão não é se a civilização humana vai sair da sinuca-de-bico ambiental em que se meteu (e às outras espécies, que não tiveram nada com isso), mas como será essa resolução: ela pode vir à moda japonesa, na qual a percepção da tragédia iminente dá lugar a medidas radicais de recuperação e finalmente à superação do obstáculo, à prosperidade e ao desenvolvimento; ou pode vir à moda maia, na forma de peste, fome, guerras e, finalmente, do colapso social.

Colapso é uma espécie de engenharia reversa do último best-seller de Diamond, Armas, Germes e Aço, que explica o triunfo da civilização européia (eurasiática, a bem da verdade) no planeta por razões biológicas e geográficas. Agora, ele se dedica a tentar entendero reverso da moeda --por que as culturas se extinguem. Teve gente que não leu e não gostou. Diamond recebeu uma resenha para lá de mal-informada do vetusto The New York Times. Foi acusado por outros de determinista ambiental (curiosamente, pela mesma turma que pega no pé de sociobiólogos como ele por supostamente pregarem o determinismo biológico). Nada mais longe da verdade. Com todas as deficiências do livro e todos os arroubos de politicamente correto (e algumas vezes de puro etnocentrismo) que contaminam suas páginas, Colapso é, a meu ver, a obra mais importante do ano (again, I may be wrong...). Além de ser um verdadeiro presente para quem curte civilizações perdidas e arqueologia, tem o mérito de tentar trazer a questão ambiental para o lugar que ela sempre mereceu: o centro de qualquer debate sobre o presente e o futuro dos seres humanos.

Logo de cara, o cientista americano afasta qualquer sugestão de "reducionismo", brincando que um título adequado (e invendável) para seu livro seria: Colapsos sociais envolvento um componente ambiental e, em alguns casos, também, contribuições de mudança climática, vizinhos hostis, parceiros comerciais e questões de resposta social. Por um lado, é um guarda-chuva enorme. Por outro, um reconhecimento -- como fica claro no subtítulo -- de que a ruína e a extinção são em última análise opções de uma sociedade.

Diamond divide sua obra em quatro partes. Na primeira, traça um quadro dos problemas que discretamente corroem uma sociedade que à primeira vista é bela e próspera, a do Estado americano de Montana. Ninguém diria, só de olhar, que Montana sofre problemas sérios de esgotamento de solos, salinização, erosão, colapso florestal e poluição de solos e águas por conta de atividade mineradora. Mas esses problemas, argumenta o autor, já fazem com que a atividade agropecuária na região, antes um carro-chefe da economia, seja estrangulada (e sobreviva devido a subsídios).

De Montana Diamond nos transporta a diversas sociedades do passado, que às vésperas de seu colapso também não davam sinais aparentes da tragédia: a Ilha de Páscoa, os maias das terras baixas da América Central, as ilhas Pitcairn, Mangareva e Henderson, no Pacífico, os anasazi do sul dos EUA e os vikings da Groenlândia. Todos esses colapsos tiveram um fator ambiental como determinante (a maior parte das vezes o desmatamento irrefreado, que chegou a inacreditáveis 100% no caso da Ilha de Páscoa), mas poderiam ter sido evitados se houvesse, no linguajar atual, vontade política de seus moradores. Assim, ao mesmo tempo que atribui ao ambiente inóspito da Groenlândia a queda dos assentamentos vikings (que, veja bem, duraram 450 anos), Diamond ressalta que foram os valores da sociedade nórdica, como a preferência por carne de vaca em vez de foca ou baleia, os agentes desse colapso. Afinal, os inuits vivem há mais de mil anos nesse mesmo ambiente, e muito bem, obrigado.

Mas o verdadeiro teste para a abordagem teórica de Diamond começa na discussão de sucessos e fracassos em sociedades atuais. O mais notável desses sucessos é o Japão do período Tokugawa, que levou a cabo (a ferro e a fogo, para parodiar Warren Dean) o maior programa de reflorestamento de que se tem notícia na história da humanidade no século 18, ao se deparar com o esgotamento das florestas do arquipélago. Outros cases são o manejo florestal bem-sucedido na Nova Guiné e na pentelhesimal ilha de Tikopia, na mesma Polinésia que viu florescerem e murcharem Páscoa e Pitcairn, além da história da República Dominicana, um país relativamente próspero (e florestado) que divide a mesma ilha com o ultra-miserável (e desmatado) Haiti. Aos números: 29% das florestas dominicanas hoje estão de pé. No vizinho, esse número é 1%. Ainda entre os fracassos modernos, bastante convincente também é a explicação ambiental de Diamond para o genocídio de Ruanda em 1994.

Finalmente, ao pintar a situação da China e da Austrália, dois gigantes territoriais que estão na pior encruzilhada ambiental de sua história, Diamond projeta o futuro da humanidade, vendo, ao fim e ao cabo, razões para o otimismo (entre elas está o "greening" progressivo e sincero das grandes corporações, a política chinesa de controle de natalidade e a interconexão cada vez maior do planeta pela globalização. Muitos dos seus estudos de caso, lembre-se, são ilhas ou sociedades geograficamente isoladas por algum motivo).

Eu sinceramente espero que Diamond esteja certo em sua esperança. Mas não concordo com ele. O principal problema ambiental da humanidade, a mudança climática, está bem longe de ser resolvido, porque ainda não bateu na bunda dos responsáveis por tomadas de decisão que realmente afetem o planeta inteiro (você sabe de quem eu estou falando). Aliás, belíssima a refutação do autor daquilo que ele chama de "one-liner objections", aquelas frases de uma linha que procuram descartar o problema, como "a tecnologia vai dar um jeito". Em muitos casos, ele passa ao largo do fato de que grande parte dos problemas ambientais do Terceiro Mundo tem sua origem no Primeiro Mundo. Por exemplo, é muito fácil para o Japão manter 80% de suas florestas em pé, sendo o segundo maior consumidor de madeira tropical do planeta. Em certas passagens ele chega ao extremo dessa visão algo ingênua e estereotipada do Terceiro Mundo, que exonera seus leitores (cidadãos do Primeiro Mundo) de culpa, ao afirmar, por exemplo, sobre o desmatamento nos países tropicais: "A razão pela qual a floresta atrás de sua aldeia está sendo cortada é geralmente que um governo corrupto tenha ordenado seu corte apesar de seus protestos, ou que eles tenham assinado com grande relutância um contrato de exploração de madeira porque não viram outra forma de conseguir o dinheiro do ano que vem para seus filhos".

Faria bem ao ilustre autor molhar suas patinhas na lama da Amazônia para perder esse tipo de ilusão.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Speak serious...

ESTÁ NA PNAS. Eu juro. Modelo sofisticado criado por Stanford. Veja as conclusões.

Missed Greenhouse Gas Targets


Overshooting global greenhouse gas targets by delaying emissions reductions may increase the chance of exceeding conditions that some experts considerdangerous, according to mathematical analysis.Article #06356: "Probabilistic assessment of ''dangerous'' climate changeand emissions pathways" by Stephen H. Schneider and Michael D. Mastrandrea

quarta-feira, agosto 17, 2005

Da série Ídolos que Nunca Conhecerei

MORREU no mês passado de Alzheimer, num asilo em Connecticut, um velho de 77 anos chamado John Ostrom. Ele era curador do Museu Peabody de Yale, pra quem não sabe a instituição fundada por Othoniel Marsh (se você não sabe quem era Marsh, pule este post) com o tutu do tio, George Peabody, para guardar os fósseis que ele coletava no Oeste Selvagem no século 19.

Ostrom descobriu nos anos 60 um pequeno dinossauro carnívoro que ele batizou de Deinonichus, ou "garra terrível". Olhou, olhou e olhou o bicho até ter uma iluminação: aquilo não era dinossauro coisa nenhuma. Estava mais para um passarinho. Assim, publicou em 1969 um paper seminal sobre "a very unusual theropod", propondo essencialmente que um bicho com aquelas características -- uma garra assassina nos pés, mãos compridas, corpo leve, osso carpal semilunado e uma cauda ossificada para dar maleabilidade só poderia ser um caçador veloz, portanto com um metabilismo alto, portanto de sangue quente.

Desnecessário dizer, "they all laughed", como cantaria Gershwin. Mas, como toda boa hipótese, a teoria de Ostrom sobre as aves descenderem do grupo de dinossauros que originou o Deinonichus (o dos maniraptores) só foi ficando mais sólida com o tempo.

Tentei visitar Ostrom em Connecticut no ano passado. Impediu-o seu estado de saúde: acabara de sofrer um derrame. Morreu rindo por último, como convém aos grandes cientistas.

PS: Deriva diretamente do trabalho de Ostrom também a paixão que o mundo tem pelo Velociraptor, outro dinopássaro.

The importance of having Ernst

LIMPANDO MINHA CAIXA POSTAL, vi um e-mail do psicanalista e historiador da ciência Frank Sulloway contendo um trecho de carta enviada às filhas do zoólogo alemão Ernst Mayr por ocasião de sua morte, no começo do ano. Era algo fadado a ficar perdido, mas que eu acho que merece registro.


Ernst was, without doubt, the most important intellectual figure in my
life. He was my closest mentor and a towering model for anyone to try to live up
to.He was always remarkably generous with his time to younger scholars and
scientists. He was well known at the Museum of Comparative Zoology for his
open-door policy, which effectively invited people to drop in unannounced, so
that they could chat with Ernst about scientific matters.

Ernst dutify read and
commented on every paper that I ever gave him to read, supplying excellent
advice regarding corrections and revisions. He read my undergraduate thesis on
"Darwin and the Beagle Voyage" (1969), although he was not required to do so,
and he volunarily wrote a report about it for the History of Science Department,
which I was very flattered to be able to read later, because it was so positive
and thoughtful. Others were often surprised by the fact that Ernst would read
papers sent to him by mail, by people he did not even know, and he would supply
important comments and suggestions. Once I tried to thank Ernst for reading a
paper of mine, by presenting him with a bottle of cogniac. But Ernst would not
accept it, saying that it was a pleasure for him to read such manuscripts and
that I should drink the bottle myself. How he had time to read all these
manuscripts, and to write and proof read everything he published himself,
remains a mystery to me.

I first got to know Ernst in 1967, when I was just 20
years old and organizing the Harvard-Darwin film expedition to retrace Darwin´s
route in South America.Ernst agreed to be the chairman of my little film
advisory group, which I had assembled to give this project a semblance of
legitimacy. Thanks in part to Ernst´s name and prestige, I was able to raise
$25,000 for this film expedition--a considerable sum in those days. While in
South America for four months, doors opened at the very mention of Ernst´s name,
and local scientists eagerly offered their services as guides into the jungles
of Brazil, the pampas of Argentinia, the channels of Tierra del Fuego, and the
mountains of the Andes, in Chile. Because of my own association with Ernst,
people often thought I was a PHD, but I had yet to obtain even my bachelor´s
degree!

After I wrote a paper for Ernst´s graduate seminar in evolutionary
theory, in the fall of 1970, Ernst took me under his wing. He was very impressed
by this paper, which showed that Darwin had mistaken the various forms of
Darwin´s finches, in the Galapagos Islands, for the forms they mimic through
convergent evolution, and hence that Darwin had not been an evolutionist during
his visit to these islands. I showed that it was the case of the Galapagos
mockingbirds that finally converted Darwin to evolution, after his return to
England and a meeting, in March 1837, with ornithologist John Gould. (Gould, it
turned out, understood Darwin´s Galapagos birds much better than Darwin did.)

Ernst always dutifully cited me for these historical discoveries. By contrast,
Stephen Jay Gould, who cotaught this seminar with Ernst, later plagiarized my
discoveries in the "New York Review of Books." (When I reminded Gould that he
had taken these ideas from my 1970 paper in Ernst´s and his seminar, he did
apologize and later put in a reference to this source for his discussion in his
book "Ever Since Darwin.") After I took this seminar with Ernst, in 1970, Ernst
used to invite me to informal seminars at his house. I also used to drop by on
an occasional basis just to chat, since I lived nearby. Mostly Ernst brought me
up to date about his latest ideas, or talked about the things that interested
him, and I just listened. Many times, in subsequent years, Ernst brought up how
much he had enjoyed these conversations and how much he missed them. But I never
felt that I was contributing much, although I think I was rather good at knowing
just enough about whatever was being discussed to be able to make some comment
that allowed Ernst to expand to a new or related topic. In short, I was good at
keeping him talking (and I did enjoy these encounters). I also taught two
seminar courses with Ernst in the history of biology, in the early 1970s, and
this was a great learning experience for me.

I owe much of the success of my
career to Ernst and his unflagging support for me. In 1973 he nominated me for a
Junior Fellowship at Harvard, and when the Senior Fellows did not see things his
way, he nominated me again the next year. This time I got the fellowship, one of
the most prestigeous that a young scholar could possibly receive. Ernst was like
that--he did not take no for an answer when he believed strongly in something or
someone. Other letters of recommendation that he wrote for me were doubtless
largely responsible for my receiving subsequent fellowships.

There are so many
ways that Ernst´s intellectual style has influenced my own scholarship. His
thinking was so logical, his scholarship so meticuous, and his intellectual
sweep so impressive. In my own career, I always tried to live up to this stellar
example and to make Ernst proud of the fact that he had nurtured my scholarship
along and had supported me so generously with his time, recommendations, and
advice.Ernst´s influence on me continues as I write here in the Galapagos
Islands. I recently read a manuscript by scientist visiting these islands, who
works on Darwin´s finches. I thought the conclusions of the paper were basically
wrong because they violated Ernst´s fundamental ideas about the role of
geographical isolation in the emergence of new species. So I rewrote the
conclusion to the paper, showing that the interesting case, involving Geospiza
fuliginosa (the Small Ground Finch) that scientist had studied was actually
consistent with Ernst´s model of allopatric speciation, although the scientist´s
findings perhaps added a new wrinkle to that model. My corrections were entirely
accepted, and now I am a coauthor on the paper. But it is really to Ernst that I
owe such a basic understanding of the origin of species and hence my
coauthorship of this paper on Darwin´s finches.

I have heard Ernst say, several
times, how much his own career was enabled by luck, such as the wonderful
episode about seeing the pair of birds with a red bill in Germany, that had not
been seen in that region for nearly a century--and how this chance observation
led to his meeting Stresemann and his subsequent career in science. Well, the
greatest stroke of good fortune in my career was my meeting Ernst as a young
undergraduate in 1967, and the considerable interest he took, thereafter, in my
own career.

terça-feira, agosto 16, 2005

Mal aê, gente

LEIO NO NEW YORK TIMES, com atraso, reportagem de Andy Revkin sobre um dos números mais citados no debate sobre o aquecimento global. Céticos como John Christy, da Universidade do Alabama (olhe no mapa onde fica o Alabama e você captará, digamos, o espírito dessa tchurma), têm insistido que o efeito estufa induzido por humanos não pode ser uma realidade, porque a troposfera, camada mais baixa da atmosfera, não esquentou. De fato, ela RESFRIOU nos trópicos nas últimas décadas.

Como cê explica essa porra, heim, Batman?

É muito simples, comissário. Com a Navalha de Occam. O que acontece é que os cálculos dos céticos estão simplesmente errados, como demonstrado por não um, mas TRÊS estudos independentes na "Science" da semana passada.

Lembro-me de que Dick Lindzen, o cético dos céticos, me disse uma vez sobre seus adversários intelectuais: "Esse pessoal deveria aprender a resolver equações diferenciais antes de se meter a falar de mudança climática".

Bem, faço minhas as palavras dele.

segunda-feira, agosto 15, 2005

A maldição do tuxaua

MAIS UMA VEZ, a morte toca com suas asas os arqueólogos do Projeto Amazônia Central. Primeiro, foi a jararaca que em 2001 levou Eduardo Neves ao bico do corvo. Agora, um crime tão bárbaro quanto inútil leva embora Jim Petersen.

Michael Heckenberger que se cuide.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Centro de alta depressão

NO OLHO DO FURACÃO de um fechamento de jornal e escaldados com o fenômeno Catarina, os editores de um grande diário paulistano não tiveram dúvidas: transformaram um "ciclone extratropical" (também conhecido nas roddas de malandragem e bocas de fumo com "tempestade") em simplesmente "ciclone". Donde o título de hoje: "SC sem luz e com cheias: é o ciclone".

O outro grande diário paulistano, me informam, também estampará no alto de uma de suas páginas algo como "Ciclone causa estragos em SC". Apesar dos insistentes protestos da editoria de ciência.

Roland Emmerich não faria melhor.

terça-feira, agosto 09, 2005

Ain't nothin' sacred??

PEDIDO AOS NOBRES deputados: por favor, não envolvam putas e cafetinas nesse mar de lama que vocês armaram com o governo Lulla. Baixaria tem limite. Elas são gente honesta, que dá duro todo dia (e não de terça a quinta). Não são escória como vocês. Não padecem das suas deficiências de caráter. Deixem a Jeany em paz.

Até porque, nobres parlamentares, atire a primeira cinta-liga quem entre vocês nunca comemorou acordos, acordões e negociatas em alguma suíte presidencial, na alegre companhia das laboriosas moças de Brasília.

Inovação tecnológica made in Bahia

OLHEM SÓ o tipo de coisa que me aparece no e-mail. Podem ter pena de mim.

Propriedade Intelectual será abordada em seminário

Um limpador de língua capaz de combater a saburra lingual, causadora de
mais de 90% dos casos de mau-hálito. Este invento da odontóloga Ana Christina
Kolbe saiu de Salvador e ganhou o mundo. Atualmente, a empresa Kolbe produz
cerca de 70 mil limpadores de língua por mês, que são comercializados em todo o
território nacional, além de países como Holanda, Portugal, Espanha, República
Dominicana, Chile, Cuba e Austrália.

Para garantir os direitos sobre sua invenção, a Dra. Kolbe fez três
registros no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de marca,
desenho industrial e modelo de utilidade. A experiência da empresa Kolbe na
invenção do limpador de língua e no seu registro junto ao INPI vai ser relatada
no Seminário Propriedade Intelectual como Instrumento Estratégico para o
Desenvolvimento Industrial e Tecnológico. O seminário acontece hoje (10), a
partir das 08h30, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia
(Fieb) e terá foco em temas como marcas, patentes, transferência de tecnologia e
inovação tecnológica.

AAAAAAAAHHHHH!!!!

MUCH TO MY DISMAY, descubro que o ilustre Daniel Piza chamou o biólogo Jared Diamond de GEÓGRAFO nas páginas do Estado de S.Paulo.

Queria saber o que o biólogo Aziz Ab'Saber acharia disso.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Relativismo cultural

RECEBO DE Steve Mirsky um link para o editorial do Washington Post sobre Bush e o design inteligente. Não sei por que ainda perco meu tempo com isso. Mas não consigo deixar de me revoltar.

Parabéns, Blairo Maggi!

NENHUMA IRONIA AQUI. Meus sinceros cumprimentos ao governador de Mato Grosso, que, depois de amargar uma taxa criminosa de desmatamento (48% de tudo o que se devsatou na Amazônia em 2003-2004 foi responsabilidade dele), depois de ter ganho o Prêmio Motosserra de Ouro, ameaçado pela Marina Silva de perder o pacto federativo e achincalhado pela imprensa nacional e internacional, depois de ter tido gente muito próxima dele presa por crime ambiental, resolveu, aparentemente, que cumprir a lei pode ser bom para os dentes.

Maggi abriu ontem, com sua ex-arquirrival Marina, o Primeiro Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Na prática, bandidos do setor produtivo e verdorrentos estão pela primeira vez sentando na mesa para discutir o que fazer com o Estado-símbolo de tudo aquilo que é bom para a economia e ruim (mas pode ser bom) para a floresta. O evento vai durar o resto da semana. É uma puta conquista.

O "estuprador da floresta" aparentemente descobriu, depois de cagar e andar para a questão ambiental nos primeiros dois anos e meio de mandato, que cumprir a lei e fazer sua corja cumprir a lei ambiental pode ser bom para os negócios e bom para seu projeto pessoal de poder: reeleição em 2006 e Presidência da República em 2010.

Parabéns também às pessoas e instituições que fizeram Maggi acordar pra vida: Greenpeace, ISA, Inpe, Inpa, MMA, imprensa, ICV, Ministério Público Estadual, na figura de Domingos Sávio Arruda, Ministério Público Federal, na do controverso Mário Lúcio Avelar. Ao GT de Florestas do Fórum Brasileiro das ONGs, representado por Roberto Smeraldi. Ao PPG-7, que bancou a instalação do sistema de licenciamento rural de MT. E mais um monte de gente que tem dedicado seus cabelos brancos a resolver a equação mais difícil do século 21.

Pode ser que esse fórum seja só mais um greenwash e que não dê em nada. Mas é sempre bom começar o semestre com um pouquinho de fé na inteligência alheia.

quarta-feira, agosto 03, 2005

A CPI da fumaça

A CPI NÃO VAI DAR EM NADA. Já rendeu cartas de protesto de diversos notáveis, editorial da Nature e até um Prêmio Nobel já pediu aos congressistas que deixem os acusados em paz. Calma: desta vez não se trata de rolo do Dilúvio Soares, nem do Marcos Malério comprando apoios. É que está em curso nos EUA uma CPI bem mais prosaica, que tem como alvo... um grupo de climatologistas.

O inquérito parlamentar foi movido pelo deputado republicano 'Smokey' Joe Barton, do Texas (de onde mais??), chefe do Comitê de Energia da Câmara dos Representantes, contra os cientistas Michael Mann (University of Virginia), Raymond Bradley (University of Massachusetts) e Malcolm Hughes (University of Arizona). Em uma carta nem um pouco delicada, ele pede aos cientistas mais informações sobre o controverso "taco de hóquei", um gráfico construído pelo trio com reconstituições das temperaturas do hemisfério Norte no último milênio, que mostra justamente uma elevação abrupta no último século (como a cabeça de um taco de hóquei deitado) e que ele suspeita que esteja todo errado. Exige também que os pesquisadores enviem currículo completo, lista de financiadores de suas pesquisas e "forneçam a localização de todos os arquivos de dados relacionados a cada estudo publicado para o qual o sr. era autor ou co-autor".

Continua o texano: "As preocupações que cercam esses estudos se refletem na qualidade e na transparência da pesquisa financiada pelo governo federal e no processo de review do IPCC".

De onde o nobre parlamentar tirou a base para o seu questionamento? Ahá! De uma matéria jornalística! No insuspeito The Wall Street Journal. Alguém precisa urgentemente exportar o Roberto Jefferson para Washington.

Primeiro, as dúvidas sobre o "taco de hóquei" são mais velhas que o petróleo do Texas. Desde que Mann e colegas publicaram seu estudo original, em 1999, um monte de gente — céticos, ceticuzinhos e ceticuzões do efeito estufa — já caiu de pau em cima das reconstruções de paleotemperatura. Muita coisa teria sido chutada, imprecisa etc. Os cientistas estão há seis anos se defendendo das acusações (para saber da história em todos os seus detalhes, vá ao blog de Mann, o espetacular Real Climate). Depois, o IPCC e toda a comunidade científica já disseram mais de uma vez que o gráfico é apenas uma ilustração. Por fim, a reconstrução das temperaturas nos últimos mil anos, que baseou o TAR (Terceiro Relatório de Avaliação) do IPCC, em 2001, foi feita e refeita independentemente por deus, raimundo e todo mundo. O resultado foi essencialmente o mesmo.

Qualé a dessa CPI, então? A Nature tem uma aposta: bullying. O Congresso americano estaria pressionando cientistas e levantando dúvidas sobre o terceiro relatório do IPCC para desacreditar o quarto relatório, que o painel deve publicar em 2007. E que deve fazer todo o blablablá dos petroleiros de Bush e companhia bela virar fumaça, quite literally.

Notícias da segundona

O GLORIOSO Gama bateu o infame Guarani de Campinas ontem por 2 x1. Agora, só é o décimo sétimo colocado da segunda divisão.

Eu odeio futebol.

terça-feira, agosto 02, 2005

Duelo de titãs

DOIS mentirosos profissionais: um guerrilheiro, que não fala a verdade nem sob tortura, e um criminalista, que ganha para não falar a verdade. Data vênia, nobre deputado, é de foder.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Dr. Seuss e a tragédia dos comuns

MINHA REVISTA verdorrenta favorita, a Grist, anda chata de dar dó. Só fala de EPA e de outras questões ambientais domésticas americanas, num provincianismo de fazer inveja a qualquer órgão de imprensa paulistano. Mas seu blog, o Gristmill, se redimiu (com o perdão da rima) hoje ao discutir o melhor livro que já se escreveu sobre meio ambiente na história da humanidade: The Lorax, do escritor infantil Theodore Geisel, aliás Dr. Seuss.

Pra quem não tem filhos, o clássico conta a história de um sujeito chamado Once-ler, que instala uma fábrica de thneeds ("A thneed is a something that everyone needs") numa espécie de paraíso ecológico que ele destrói literalmente até o último pé de árvore, apesar dos conselhos insistentes do Lorax, um bichinho que fala pelas árvores ("Cause the trees have no tongue"). Claro, ele até que fica triste ao ver a biodiversidade se acabando, mas veja os argumentos dele e diga se você não já ouviu isso antes:

I meant no harm. I most truly did not. But I had to grow
bigger. So bigger I got. I biggered my factory. I biggered my roads.
I biggered my wagons. I biggered the loads of the Theends I shipped
out. I was shipping them forth to the South! To the East! To the West! To
the North! I went right on biggering...selling more Thneeds. And I biggered my
money, which everyone needs.

O Gristmill argumenta que a ganância do Once-ler talvez não seja a culpada pela destruição, mas o fato de as árvores do local não terem tido direitos de propriedade atribuídos a elas, o que as mergulharia na chamada "tragédia dos comuns" (em resumo, patrimônios ambientais que são de todo mundo acabam indo pro saco porque não são de ninguém).

A matéria tem um link para o texto integral do livro de Dr. Seuss. Tragédias à parte, divirta-se.